Extraído de Azevedo, Cláudio; A Caminho no Ser: Uma Visão Transpessoal
da Psicologia no Yoga S?tra de Pat?ñjal?, Editora Órion, Fortaleza, 2.007
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Yamas vem da raiz sânscrita ‘yam’, que significa manter ou sustentar, no sentido de restringir-se, como se faz quando ‘se toma as rédeas de um cavalo’. Nesse sentido, yamas toma a forma de abstenções em vez de proibições, algo auto-imposto ou por uma autoridade externa, pois quando a prática é imposta, gera e retém demasiada energia interna para sua contenção, com conseqüências mentais e emocionais imprevisíveis. Assim, yamas deve ser uma atitude ou comportamento de abster-se por não se encontrar mais um mínimo de sentido nas antigas práticas. Os yamas são: abster-se e libertar-se dos anseios por violência (ahi?s?), por falsidade (satya), por roubo (asteya), por prazeres (brahm?c?rya) e por cobiça (aparigraha).
No início da prática das abstenções, logo irão surgir algumas situações em que talvez duas ou mais abstenções vão contrapor-se. Nesses casos, devem-se respeitar os yamas segundo a ordem em que foram apresentados por Pat?ñjal?. O princípio de não-violência (ahi?s?) terá sempre prioridade sobre os demais, a veracidade (satya) perde sua prioridade apenas para ahi?s?, imperando sobre os demais, e assim por diante. Na sua prática, é essencial o convívio em sociedade e a busca de a exposição a pequenas mudanças, como forma de experimentar e testar nossas reações condicionadas (sa?sk?ras) em situações diferentes.
Yamas | ||
Liberdade do anseio por… devido a… |
Obtém-se… |
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Violência… Raiva |
Não-agressividade |
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Satya |
Mentira… Medo |
Poder de Realização |
Roubo… Apego |
Prosperidade |
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Prazer… Desejo |
Energia |
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Cobiça… Inveja |
Conhecimento de causa-efeito |
Mas será que existe realmente uma relatividade nesses conceitos? Devemos ter em mente que qualquer forma de atenuação dessas rigorosas regras pode esconder a atuação indulgente de nossa mente (manas), guiada por nosso ego (aha?k?ra). Entretanto, estamos encarnados num universo relativo, onde certo e errado são conceitos totalmente subjetivos e ilusórios. Assim, embora situações conflitantes sempre surjam, não podemos perder de foco qual é a nossa verdadeira meta. Encontrar nosso Eu é não pertencer mais ao mundo das relatividades, mas ao Universo do Uno, e, assim, a busca da perfeição nessas abstenções, a que o Yoga S?tra denomina Yamas, não reconhece nenhuma exceção, independe de qualquer coisa e constitui o mah?-vrata? (o Grande Voto) YS II:31.
Mas esse voto somente surgirá realmente quando despertar em nós o senso de auto-responsabilidade, onde passamos a seguir essa severa disciplina não mais como imposição externa ou por motivos externos. Quando a auto-responsabilidade surge, não mais nos domina a mente as desculpas e justificativas imaturas como fatores biológicos de nossa natureza, fatores familiares, hereditários, ambientais ou sociais, mas assumimos integralmente a responsabilidade por nossa vida.
A abstenção dos yamas é uma atitude passiva em princípio, que pode nunca ser posta em prática se as condições apropriadas não surgirem, como nos sa?ny?sis (retirantes). Assim, a prática das abstenções impõe uma vida em grupo para que se perceba se os antigos hábitos já estão adormecidos. A meta final da prática dos yamas é desenvolver o estado mental de aparigraha. Ahi?s? é o início, e cada yama é uma forma de facilitar a prática e a perfeição do estado mental subseqüente.
A não-possessividade (aparigraha) somente pode surgir de um estado mental de não-indulgência (brahm?c?rya). Somente quando não se cultiva o hábito de ceder ao prazer da satisfação dos desejos dos sentidos é que se obtém a verdadeira ausência de inveja e conseqüente cobiça.
Já o estado mental de brahm?c?rya é dependente de um estado de não-roubo (asteya) que nasce de um estado de não-falsidade (satya) e não-falsidade somente pode surgir de uma base não-violenta (ahi?s?). Na perfeição da prática de yamas resplandece uma real libertação desses desejos por violência, falsidade, roubo, prazeres e cobiça, que independe de todas as circunstâncias.