O Cristianismo (Catolicismo) – cont.

OS DOGMAS E DOUTRINAS DA IGREJA CATÓLICA ROMANA

Por dogma (doutrina), a Igreja católica nomeia todos os ensinamentos tidos como uma verdade fundamental e imutável, revelada por Deus à Igreja e da qual é impossível duvidar. No início do cristianismo, ante a diversidade religiosa existente, necessário foi determinar os princípios que norteariam a crença dos seguidores de Jesus, os princípios de fé. Assim foram criados os credos, ou profissão de fé. Considerado o mais antigo, o Credo dos Apóstolos data do século III. Posteriormente surgiram outros nos Concílios de Nicéia (325, Credo de Nicéia) e de Constantinopla (381), no século IV, e o de Santo Atanásio (293-373, Credo Atanasiano), posteriormente (veja no APÊNDICE). Muitos pontos, sem nenhuma explicação racional crível, fizeram mudar o conceito de dogma para “aquilo que devemos crer sem questionar”. O catecismo da Igreja católica cita todos os ensinamentos dogmáticos, dos quais comentaremos apenas alguns.

MARIA, MÃE DE DEUS

A idéia de Maria como Mãe de Deus vem desde 431. Em 1.090 instituiu-se o costume da reza do rosário para Maria, sendo incluída a “Ave Maria” no rosário em 1.508. Segundo São Jerônimo (347-420), Maria estabeleceu o fundamento de castidade e virgindade. Em seu texto “Contra Helvídio e sobre a virgindade perpétua de Maria”, ensinava a virgindade perpétua de Maria. A imaculada conceição de Maria, afirmada como dogma em 1.854 por Pio IX, afirma que Maria também fora concebida sem pecado original, ou seja, sua mãe também era virgem. A imaculada conceição teria sido confirmada pela própria Maria em 1.858, quando de sua aparição em Lourdes, França.

Como a Igreja aderiu, com Santo Agostinho (354-430), à idéia de que o pecado original era transmitido pelo ato sexual, Jesus, para ficar livre desse pecado, teria que ter vindo ao mundo através de uma concepção virginal. Da mesma forma a Igreja defende que Maria não sentiu as dores do parto, pois não pecara (“Em dores darás a Luz” – Gn 3), que seu hímen permaneceu intacto após o parto e que não houve delivramento da placenta. Essa noção de virgindade perpétua advém do Proto-Evangelho de Tiago, rejeitado em parte pelos teólogos por conter citações sobre os irmãos de Jesus, filhos de José de um casamento anterior. Nele se relata como a virgindade de Maria foi comprovada após o parto e os nomes de seus pais, Joaquim e Ana, que eram estéreis.

O Vaticano afirma que Maria é a nossa Mediadora por Jesus e Jesus é o nosso Mediador por Deus. Nos quatro primeiros séculos da Igreja, esta verdade era professada só implicitamente, até que no século IV foi instituída a festa da assunção de Nossa Senhora, para celebrar o mistério. Pelo fim do século V, a Assunção de Maria se encontrava já afirmada explicitamente em vários documentos até que em 1.950 foi definida solenemente. O dogma da assunção de Maria diz que a Imaculada Mãe de Deus é sempre Virgem Maria, e que terminando o seu curso de vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória Celeste (Constituição apostólica “Munnificentíssimus Deus” (M.D DE Pio XII – 01/11/1.950)). Entende-se por assunção a glorificação corporal antecipada da santíssima Virgem, em razão dos méritos do seu Filho, Jesus Cristo. Assim enquanto diz-se que Jesus ascendeu aos céus por virtude própria, sobre Maria é certo que esta teria sido assunta ao Céu, de corpo e alma, pelas virtudes e méritos de Jesus. Ela foi assim, levada, não tendo subido por si. Em 1.965 Maria foi proclamada Mãe da Igreja Católica.

DEUS E A SANTÍSSIMA TRINDADE

Afirma a verdade de que existe uma Trindade Santíssima, composta do Pai, do Filho, Cristo Jesus, e do Espírito Santo, consubstanciais, formando o único e verdadeiro Deus, baseado na tese de Santo Atanásio – credo Atanasiano. Embora Deus seja numérica e individualmente Um, existe em três Pessoas distintas, ou seja, a essência divina é uma e a mesma no sentido absoluto e estrito, e existe em três Pessoas realmente distintas entre si, sendo cada uma realmente idêntica à mesma essência divina.

O catecismo católico romano afirma que o Pai gera eternamente o Filho e o Espírito Santo foi gerado do amor entre o Pai e o Filho, embora no livro do Gênesis as duas primeiras Pessoas citadas como existentes fossem Deus e o Espírito de Deus (que na teogonia hindu são representados como Sat e Tat – ver no capítulo II), o Espírito que paira sobre os mares (maria em latim) – citado em Gn 1:2.

No Espírito Santo pode-se ver o lado feminino da Trindade, representado por uma pomba branca (Jo 1:32). Mas uma interpretação mais completa seria a de um continuador da obra do Filho, ou o próprio Filho numa outra forma (Jo 16:7), o Espírito da Verdade (Jo 16:13), a fonte de prodígios e grandes milagres (At 8:13) vinda do Pai através do Filho (Jo 16:14s). Dessa forma o Espírito Santo, figuraria como um instrumento do Verbo, do próprio Cristo (Jo 1:14), continuando a Sua missão (Jo 16:12-15) de anunciar a Graça e a Verdade (Jo 1:17). Nessa interpretação a figura feminina se voltaria para a Virgem Mãe de Deus, completando a Santíssima Trindade.

INFALIBILIDADE PAPAL

Dogma divinamente revelado, instituído no Concílio Vaticano I (1.869-1.870), válido apenas quando o papa se pronuncia sobre questões doutrinárias:

 

“… que o Romano Pontífice, quando fala ´ex cathedra´, ou seja no desempenho do ministério de pastor e doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica alguma doutrina referente à fé e à moral para toda a Igreja, em virtude da assistência divina prometida a ele na pessoa de São Pedro, goza daquela infalibilidade com a qual Cristo quis munir a sua Igreja quando define alguma doutrina sobre a fé e a moral; e que, portanto, tais declarações do Romano Pontífice são por si mesmas, e não apenas em virtude do consenso da Igreja, irreformáveis”.

 

O PECADO

É a transgressão livre e deliberada da lei de Deus, sendo considerado pecaminoso todo ato em que a vontade humana se opuser à vontade divina, como tal conhecida pela consciência. Os teólogos cristãos distinguem diferentes formas de pecado: em oposição ao “original”, herdado como conseqüência da desobediência de Adão e Eva às determinações de Deus, todos os outros são “atuais”. O pecado original se transmite à criança devido a sua concepção ser levada a efeito através do prazer carnal e da sensualidade, considerados pecados.

Entre os pecados atuais existe o “mortal”, ofensa grave a Deus, cometida deliberadamente apesar de advertido previamente, que mata espiritualmente o homem (por exemplo o assassinato, o furto ou a blasfêmia) e o “venial”, que por ser leve não faz perder a graça. Entre esses há o de “omissão”, que se comete ao deixar de fazer o que estava preceituado, o “habitual”, que macula continuamente a consciência do homem, até ser perdoado, e os pecados capitais (soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça), que não propriamente pecados, mas tendências da natureza humana e origem de todos os demais. Esses últimos só foram enumerados e agrupados no século VI pelo Papa Gregório I Magno (590-604). A Igreja medieval contrapunha sete virtudes aos sete pecados capitais (caput, cabeça): humildade, generosidade, castidade, paciência, temperança, caridade e disciplina, respectivamente.

Outro tipo de pecado, que não tem perdão, é o pecado contra o Espírito Santo (Mt 12:31, Mc 3:29 e Lc 12:10), que é cometido quando se atribui ao “espírito mau” feitos realizados pelo Espírito Santo. Os teólogos medievais enumeraram seis pecados desse tipo: desesperar da própria salvação, confiar presunçosamente na misericórdia de Deus, atacar as verdades aceitas pela Igreja, invejar o bem espiritual dos outros, permanecer em pecado mortal e a impenitência final, pois endurecem o pecador contra o auxílio do Espírito Santo e tornam difícil o arrependimento.

A doutrina cristã afirma que o sacrifício de Jesus representou a redenção da humanidade, a perda de seu caráter eminentemente pecador. Mediante o arrependimento e a reconciliação com Deus, a humanidade pôde libertar-se do pecado e aceder à graça divina.

OS SACRAMENTOS

Os atos sagrados, ou sacramentos, são uma forma de vitalizar os laços entre o homem e Deus e reforçar a comunhão com o divino. É a maneira pela qual Deus permite a aproximação do homem. O catolicismo reconhece sete sacramentos:

  1. Batismo: com água, é o meio pelo qual o homem entra na graça divina, sendo-lhe perdoado o pecado original.
  2. Confirmação: também conhecida como crisma, é uma cerimônia em que o adolescente, após conhecer toda a doutrina, confirma crer e continuar professando a fé católica. Uma unção com óleo é realizada.
  3. Eucaristia: é a cerimônia em que se dá graças à revelação dada por Jesus, que se ofereceu em corpo e sangue por toda a humanidade. Nela se usa o pão e o vinho como ingredientes cerimoniais. Acredita-se na transubstanciação, ou seja na transformação real do pão e do vinho no corpo e sangue de Jesus.
  4. Penitência: consiste no arrependimento e confissão de pecados a um sacerdote, que serve de intermediador, transmitindo o perdão, vindo de Deus, e ditando um ato de contrição.
  5. Unção dos enfermos: consiste na unção com óleo dos enfermos, como forma de dar força espiritual durante enfermidades.
  6. Ordem: é a ordenação de sacerdotes para o serviço da Igreja, com plenos poderes de administrar os outros sacramentos.
  7. Matrimônio: onde os nubentes se unem “para se tornar apenas um corpo”, vivendo em comunhão divina e prometendo educar os filhos na fé.

 Existem também meios de implorar as bênçãos divinas, os sacramentais. Estes podem ser objetos consagrados (abençoados), símbolos ou cerimônias que despertariam a devoção do crente, tendo seu poder decorrente da fé individual.

O DEMÔNIO

A história do pecado original, relatada em Gênesis, demonstra a existência de uma força contrária ao Criador, embora a própria Bíblia afirme que toda a criação tenha sido boa (Gn 1:31). Então de onde vem o mal? Como surgiu a serpente, símbolo que representa as forças do mal no livro?

Belzebu, termo hebraico derivado de “Baalzebub”, o deus Baal fenício e cananeu, é para os cristãos o príncipe do mal. Conhecido também como Lúcifer (portador de Luz), em Ez 28 o profeta Ezequiel fala do rei de Tiro como um querubim de perfeito esplendor, o maior deles, que pela soberba e iniqüidade foi atirado à Terra desfeito em cinzas. As aspirações de Lúcifer a ser igual ao Altíssimo podem ser vistas em Is 14:13s. Em Jd 6 vemos que vários anjos se juntaram a ele (um terço dos anjos que moravam no céu), “abandonando os seus tronos”, em uma rebelião, descrita em Ap 12:7-9. Esse trecho descreve uma luta entre Miguel e seus anjos contra o Dragão (Lúcifer) e seus anjos, em que Miguel vence e Lúcifer e seus anjos são precipitados na Terra (também visto em Lc 10:18), onde tentaram continuar a batalha com o Reino dos Céus. Como não conseguira mais atingir aos anjos de Deus, Lúcifer voltou-se “cheio de grande ira” aos habitantes da “terra e do mar” (Ap 12:12).

Revelou, então, ao homem, o Conhecimento oculto, simbolizado pela assimilação do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 3:5), e está presente em toda a Bíblia, como que pervertendo o homem ao mal. Esse discernimento teria sido apenas o resultado do conhecimento humano, conseqüência de seu pensamento reflexivo.

Também chamado de “a Besta”, Asmodeu (deus persa da tempestade), Belial ou Azazel, a Igreja continua a ver o Demônio (do grego daemon, sábio ou conhecedor) como um ser que concentra o Mal e que induz o homem, de uma forma às vezes sutil, a se afastar de Deus, mas a quem ninguém, nem mesmo o arcanjo Miguel, ousou repreender: “Que o próprio Senhor te repreenda!” (Jd 9). Lúcifer é a personalização do demônio dos maniqueístas.

Segundo Santo Agostinho (354-430), citando o pensamento pagão à época, “os deuses ocupam as regiões elevadas, os homens as baixas, os demônios a intermediária… têm a imortalidade do corpo, mas as paixões da mente em comum com os homens”.

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