O Nascimento das Civilizações (cont.) – Os Gregos

OS HEBREUS

O povo hebreu tem sua origem perdida na Antigüidade remota, provavelmente de nômades de origem semita. Helena Blavatsky (1.831-1.891), em sua obra magna, sustenta que os hebreus descendem de indianos de origem humilde, que não pertenciam a nenhuma casta, os Chandalas ou os “pedreiros” mencionados por Manu ou no Vyasa-Veda, e que emigraram para a Caldéia e Pérsia por volta de 8.000 a.C.. Flavius Josephus (37-100) os cita como prováveis descendentes dos pastores Hicsos.

Na verdade não há registro histórico (arqueológico) que comprove a história de Abraão e de Moisés. Inconsistências históricas e geográficas minam a veracidade dos relatos registrados no Antigo Testamento. Vestígios de civilização na época dos acontecimentos, em alguns lugares citados, ainda não são descobertas arqueológicas.

De qualquer forma, é provável que o hebreu Abraão, filho de Taré, que residia em Ur – Caldéia, conhece a doutrina esotérica egípcia e abandona o politeísmo vulgar (a principal deidade de Ur era Sin, o deus da Lua). Textos cuneiformes documentam um ataque de exércitos elamitas por volta de 2.000 a.C. a Ur (atualmente em território iraquiano), que pode, talvez, ter precipitado a saída de Taré, Abraão, Sara e Lot da cidade. Mas o registro desse êxodo não foi ainda achado.

Segundo o Gênesis bíblico, ele viajou para Harã e aos 75 anos de idade recebe ordem direta de Deus para ir com seu povo a Canaã, a terra prometida, na atual Palestina, provavelmente por volta de 1.850 a.C.. Vivendo como nômades agricultores, retiram-se para o delta do Nilo, fugindo da fome, por volta de 1.785-1.674 a.C., pois essa terra era mais rica e produtiva. Do Egito, Abraão volta a Canaã e depois finalmente a Hebron, onde falece.

Sob a dinastia dos Hicsos (1.674-1.580 a.C.), os hebreus se multiplicaram e se espalharam por todo o Egito, tornando-se ricos, poderosos e influentes, época de José. O neto de Abraão, filho de Isaac, teve seu nome mudado de Jacó para Israel (que significa: “aquele que luta com Deus”) e sua descendência de 12 filhos gerou as 12 tribos de Israel, os israelitas. Os descendentes de um de seus filhos, Judá, eram conhecidos como judeus. Paulatinamente o nome foi estendido a todo o povo israelita, até que, a partir de 70 d.C., após a destruição dos registros genealógicos pelos romanos, nenhum israelita soube mais de qual tribo descendia.

No século XIII a.C., os israelitas, a despeito da opressão iniciada com o fim do império dos Hicsos (que culminou com a sua escravidão), já eram um povo forte e numeroso, e o Faraó Ramsés II (1.290-1.224 a.C.), temeroso, inicia um programa de redução populacional que incluía o sacrifício de todos os filhos homens, pelas parteiras, assim que nascessem.

Moisés, um judeu da tribo de Levi, é abandonado no Rio Nilo e apanhado pela irmã do Faraó. Educado no Templo de Amón-Rá junto com o filho de Ramsés II, Mineptah (Faraó de 1.224-1.204 a.C.), Moisés teria sido instruído nos livros secretos sacerdotais e se tornado um Iniciado (conhecedor dos Mistérios egípcios – At 7:22), escriba sagrado, sacerdote de Osíris, sendo conhecido como Hosarsiph, segundo algumas fontes egípcias. Enviado pelo Faraó para ser inspetor dos judeus em Goshen, num impulso de generosa indignação, matou um guarda egípcio em defesa de um israelita que era surrado (At 7:24). Fugindo então para o deserto do Sinai, foi acolhido por Jetro, sacerdote Etíope de Madiã, casando-se com sua filha Séfora (Êxodo 18). Lá, o Deus de Abraão ordena-lhe, em uma visão, que volte ao Egito, e conduza os israelitas para o deserto, de volta à terra prometida, Canaã.

Moisés teve que usar de “poderes mágicos”, dados pelo Deus de Abraão, para convencer o Faraó Menefta a ceder a liberdade aos israelitas (Ex 5-15). Comandou o povo na sua saída do Egito, atravessou o mar Vermelho em direção à Palestina e lhes deu as leis fundamentais junto ao monte Sinai. Estes fatos datam de cerca do ano 1.270 ou 1.250 a.C.. Peregrinam 40 anos no deserto, com Moisés exercendo grande poder sobre o seu povo através de suas pregações, da instituição da pena de morte (Ex 21:12-17), da lei de Talião (Lv 24:17-22), do uso do “fogo devorador” ou “estranho” que gerava uma espessa e escura fumaça, provavelmente pólvora e explosivos na forma de incenso (Ex 19:18, 24:17 e 33:9; Lv 10:1s; Nm 3:4, 11:1, 16:31-35 e 17:12ss; Dt 4:11, 4:24, 4:36, 5:4s, 5:23, 9:3 e 32:22), e de outros milagres atribuídos a um deus muito estranho (herói dos combates – Ex 15:3 e I Sm 15:2; impiedoso – I Sm 15; que incitava o ódio aos inimigos, punia os crimes humanos até a quarta geração de seus descendentes e aceitava sacrifícios humanos – Ex: 32:27ss, II Sm 21:6-9 e Jz 11:30-39) que não tinha poderes ilimitados (Jz 1:19). Aliás, o próprio Cristo afirmara que o Seu Pai não era o mesmo que o pai dos hebreus, esse sendo “homicida desde o princípio”, “mentiroso e pai da mentira” (Jo 8:42ss).

Então, Caleb e Josué comandaram a conquista do novo país, vencendo povos cujas cidades eram demasiadamente fortificadas, com a ajuda do fogo devorador (Dt 9:3). Suas doze tribos se estabeleceram em doze áreas nas montanhas e vales de Canaã. Esse período durou cerca de 200 anos, marcado por guerras com os antigos moradores da região.

As doze tribos de Israel foram governadas inicialmente por Juízes. Foram se desenvolvendo aos poucos até que Samuel, o último Juiz, constituiu um reino, Saul foi sagrado rei, por volta de 1.020 a.C. e sucessivamente Davi e Salomão. A partir de Davi, rei em cerca do ano 1.011 a.C., e fundador propriamente dito do reino judeu, a nação teve cerca de um século de glória, com particular destaque sob o comando de Salomão (972-929 a.C.). Em 1.993 encontrou-se escritos, datados do século IX a.C., que mencionam um rei Davi.

Conta-se que aproximadamente no ano 1.000 a.C., Salomão teria ido ao Egito a procura de instrução nas mais altas ciências e filosofias egípcias, tornando-se neófito em El Amarna, cidade fundada por Akenaton IV (vide adiante quando se falar sobre a religião egípcia). Influenciado pela verdadeira religião egípcia, concebeu uma religião filosófica e monoteísta. Eram reconhecidas sua impressão de amor, sabedoria e virtude, tendo sido conselheiro do Faraó para assuntos políticos. Casou-se com a filha do Faraó Shishak I e retornou à Palestina. Com cinco anos de reinado, Salomão fez alianças com o Egito e com Tiro e construiu o Templo de Jerusalém nos moldes do templo egípcio de El Amarna, retirando-se as estruturas laterais que davam a forma de cruz ao templo egípcio. Teria contado com a ajuda de dois assistentes, os arquitetos e artistas Hu-ramabi e Hiram Abif, rei de Tiro (I Rs 5).

No reinado de seu sucessor, Roboão, uma dissensão entre as tribos dividiu o poder, entre Samaria e Judá (Judéia). Com a divisão das tribos judaicas em dois reinos, surgiu a esperança e a fé em um novo ungido (os reis tinham por costume ser ungidos ao subir ao trono): o enviado de Deus para restaurar a unidade do povo e a soberania divina sobre todo o mundo.

O Reino de Samaria, chamado também Reino de Israel (10 tribos), se tornou muito mais desenvolvido que o da Judéia. Foi conquistado pelo rei da Assíria, Sargon II, em 722 a.C. enquanto o Reino da Judéia permaneceu independente. Posteriormente, esse último, com capital em Jerusalém, foi tomado pelos babilônios em 587 a.C., cujo rei, Nabucodonosor IINínive, antiga capital assíria. Os monumentos descobertos pela arqueologia, normalmente atribuídos a Salomão, são datados dessa época de prosperidade do Reino de Samaria. (630-561 a.C.), manda incendiar Jerusalém. A conquista assíria foi comprovada por achados arqueológicos em

Assim, em 587 a.C. terminou a fase áurea dos judeus, quando se formaram seus ritos e se fixou o corpo principal do texto bíblico. O povo hebreu passa ao domínio babilônio por 5 décadas e, a partir de então, cresce em importância o poder religioso, porquanto havia desaparecido o poder civil nacional. É a partir do exílio na Babilônia que se pode falar propriamente de judaísmo. A crença em um novo “ungido”, ou Messias, se tornou a esperança de libertação. O povo, exilado na Mesopotâmia, se libertou definitivamente do cativeiro, em 538 a.C., quando o rei persa Ciro conquistou definitivamente a Babilônia e permitiu a volta deles para sua terra com uma liberdade relativa. Parte deles retornou a Jerusalém, onde então reconstruíram seu templo (520-516 a.C.) e retomaram suas práticas, consolidadas, sobretudo, a partir de 445 a.C. sob Neemias e Esdras, outra parte retornou ao norte (os samaritanos) e o restante permaneceu disperso pelo Reino Persa. Agora sem rei, os judeus passaram a admitir um poder teocrático exercido pelos chefes religiosos.

Após a helenização do mundo antigo, a Judéia fica sob o julgo de Alexandre Magno (331 a.C.), até que, quando ele morre (323 a.C.), fica temporariamente sob o domínio dos ptolomeus do Egito (Alexandria). Passa então ao domínio do mais poderoso reino helênico, os Selêucidas da Síria (Antioquia). Depois de um século também declina o poder sírio, em conseqüência da expansão exploradora romana.

No quadro político criado no Oriente pelos romanos, o pesado tributo pago obrigava o rei da Síria a obter em todo o seu território os recursos, para os quais os judeus se negavam contribuir. A inabilidade do rei sírio Antíoco IV, Epífano (175-163 a.C.), resultou na revolta dos judeus sob o comando de Judas, o Macabeu (167 a.C.), filho do sacerdote Matatias, com apoio dos “judeus piedosos” (os assideus).

Esta revolta foi causada ante ao despojamento das riquezas do templo de Jerusalém (que foi transformado num santuário em honra a Zeus), com vistas a pagar tributos aos romanos, e ante à imposição de uma helenização, ou paganização da Palestina, sob a pena de morte. Sua religião deixou de ser reconhecida oficialmente. O irmão de Judas, Jônatas Macabeu, prosseguiu a luta e Simão, o terceiro sucessor, conseguiu um reconhecimento maior por parte dos mesmos sírios (143-135 a.C.). Conseguem assim os judeus reagir e conquistar uma independência relativa, que durou de 164 a 63 a.C., o passageiro Reino dos Macabeus, com apoio dos romanos. Quando os romanos, sob o comando de Pompeu, o Grande, conquistaram definitivamente a Síria (64 a.C.) e a converteram em Província, continuou a Judéia integrada à referida Província Síria.

Dessa forma, por um século se sucederam os príncipes asmoneus (macabeus) e liturgicamente se desenvolveu o culto religioso judeu, consolidando-se no templo de Jerusalém a seita moderada dos saduceus, contra os quais outra facção reagia. Denominada de fariseus (separação), considerava o regime saduceu como despótico. Continuavam as agitações, agora contra Roma, cujo resultado final foi, em 32 a.C., a nomeação de Herodes Magno, como governador da província, por César. Notabilizou-se o rei títere de Roma pela grande reforma, praticamente uma reconstrução, do Templo de Jerusalém. Sua crueldade serviu de base para a versão do morticínio das crianças inocentes, narrada a propósito do nascimento de Jesus (Mt 2:16ss).

Morto Herodes Magno (4 a.C.), conturbou-se novamente a sucessão, passando Roma a estabelecer um governo direto, pela nomeação de Arquelau, filho de Herodes Magno, para governar a Judéia, a Samaria e a Iduméia, ou seja, o sul da Palestina. Ficou para Herodes Antipas, a Galiléia e a Peréia. Mais ainda ao Norte da Palestina, para Filipe (também filho de Herodes Magno) ficou Traconites (próximo de Damasco) e Ituréia. Passou o sul da Palestina por uma série de procuradores romanos, dentre os quais Pôncio Pilatos (26-36). Enquanto isto, no Norte, Filipe de Traconites teve como sucessor Herodes Agripa I, o qual em 39 d.C., sob a proteção do Imperador Gaio, recebeu também o controle do sul da Palestina e da Transjordânia. Finalmente, de 41 a 44 esteve de novo unida a Palestina, sob Herodes Agripa I.

Foi nestes dias de prosperidade judaica, sobretudo do seu culto, que os cristãos já estavam com cerca de dez anos de vigência, ocorrendo os conflitos mais graves entre as duas facções, dali resultando a morte de Tiago (o menor), e a seguir também a prisão de Pedro (Atos, 12,1-3). Com a morte de Herodes Agripa I, em 44 d.C., toda a região foi transformada em província romana, mantido porém Agripa II, como rei de Tronítides, Ituréia e Abilene.

Como não reconheceram Jesus como Messias, pois esperavam alguém que restaurasse a “glória de Israel”, como um Davi, um Salomão ou um novo Macabeu, os judeus intensificaram suas atividades contra o jugo romano. As revoltas à base do messianismo, tendo a frente principalmente os zelotas (Cf. em JUDAÍSMO), fizeram com que finalmente, em 70 d.C., o Imperador Tiro mandasse um exército de 60.000 homens arrasar a região e destruir Jerusalém, culminando no suicídio coletivo em Massada. Depois de mais esta derrota, e da destruição do segundo templo de Jerusalém e da própria cidade, os judeus se tornaram uma nação errante pelo mundo (a Diáspora), ainda que sempre unida e influente, cultivando o espírito de raça eleita e uma religião própria. A história dos procuradores e da guerra judaica é conhecida pela narrativa de Flavius Josephus (37-100) em “Antigüidades Judaicas”, escrito em 93 d.C.. Uma segunda Revolta ocorreu, provocada por um grupo de judeus insurretos, em cerca de 132-133 d.C., havendo eles ocupado pela última vez as grutas de Qumran. Essa insurreição foi sufocada pelo Imperador Adriano que exilou os judeus de Jerusalém até que Constantino promulgou liberdade de credo no império (313 d.C.).

Durante a Idade Média, duas novas comunidades judaicas surgiram: os sefárdicos (Espanha) e os asquenazes (Europa central e oriental) que influenciaram o judaísmo contemporâneo. A partir do século XII eles foram expulsos de quase todos os países da Europa ocidental, sob influência da Igreja Católica. Esse período negro da história dos hebreus, conhecidos como judeus desde a diáspora, trouxe um novo despertar do messianismo, com o aparecimento de vários supostos messias e do despertar, no século XVIII de dois movimentos que procuraram reerguer o judaísmo: o hassidismo (mistura de misticismo e êxtase) e o caminho do Hascalá (ou esclarecimento) – ver adiante em JUDAÍSMO.

A Diáspora termina em 1.948 com a criação do Estado de Israel, onde residem cerca de 5 milhões dos cerca de 15 milhões de judeus. O ano judaico é contado de setembro a setembro, seguindo um calendário lunar, sendo o ano atual (até setembro 2002) o 5.762o da criação do mundo.

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