É uma religião e um projeto de organização de sociedade expresso na palavra árabe Islã, a submissão confiante a Alá (Allah, Deus em árabe, “a divindade”). Seus seguidores, hoje cerca de 1,3 bilhão no mundo, chamam-se muçulmanos (muslimun, em árabe): os que se submetem a Alá para render a honra e a glória que Lhe são devidas como Deus único.
Ibrahim (o Abraão judeu) renuncia aos deuses e, iluminado, afirma a existência de um único Deus, diferente de todos os cultuados à época (Alcorão 6:74-80). O prenúncio da religião veio com Ismael, o primeiro filho de Ibrahim. Os dois são considerados modelos perfeitos de devoção: “levantaram os alicerces da Casa” (Alcorão 2:127; a Caaba com sua pedra negra, em Meca). A Caaba teria sido construída por Adão e destruída após o dilúvio, para ser reconstruída pelos dois. Segundo a maioria dos muçulmanos, Ismael, filho de Ibrahim com sua escrava Agar, é quem seria sacrificado, como prova de amor a Deus. Como recompensa, Deus impede o sacrifício e lhe promete outro filho, Isaac.
Maomé (570-632, corruptela hispânica de Mohammed, nome próprio derivado do verbo hâmada e que significa “digno de louvor”) nasceu em Meca, na tribo árabe coraixita, e trabalhou como mercador e condutor de camelos. Segundo a tradição, aos 40 anos, durante um retiro que fazia anualmente nas cavernas do Monte Hira, próximo a Meca, recebe a missão de pregar as revelações trazidas de Deus pelo arcanjo Gabriel. Escreve o Alcorão de forma que o livro apresenta 18 mil camadas de significados (um significado para cada um dos 18 mil universos criados). Seu monoteísmo choca-se com as crenças tradicionais das tribos semitas (cheia de deuses, seres sobrenaturais e ritos em torno de pedras sagradas, supostamente vindas do céu) e, em 622, Maomé é obrigado a fugir para Iatribe, atual Medina, onde as tribos árabes vivem em permanente tensão entre si e com os judeus. Chamada Hégira (busca de proteção) marca o início do calendário muçulmano (o ano em curso – 2.001/2.002 – é o 1.422o da Hégira). Medem o ano pelas 12 revoluções completas da Lua (Alcorão 6:96) em torno da Terra. É em média 11 dias menor do que o ano solar e indica a passagem de uma comunidade pagã para uma comunidade que vive segundo os preceitos do Islã.
A doutrina do profeta e a idéia de comunidade do Islã (al-Ummah) formam-se durante a luta (Jihad) pelo controle de Meca: todos os muçulmanos são irmãos e devem combater todos os homens até que reconheçam que só há um Deus (Tauhid). Maomé estabelece a paz entre as tribos árabes e com as comunidades judaicas e começa uma luta contra Meca, conquistando-a em 630. Fez então de Caaba (com sua Pedra Negra), sem seus ídolos, um ponto de peregrinação e culto a Alá. Morre dois anos depois, deixando uma comunidade espiritualmente unida e político-socialmente organizada em torno dos preceitos do Corão.
Consideram Adão, Abraão (Ibrahim), Noé, Hud, Saleh, Lot, Chuaib e Moisés (Musa) como grandes profetas e Jesus como o último grande profeta de Israel e precursor de Maomé. Os profetas seriam enviados especiais de Deus, Mensageiros, aos homens, para reconduzi-los de volta à Lei (Alcorão 10:47), algo similar aos Avatares hindus já mencionados. Jesus, conhecido como Issa ou Isa, derivado da palavra síria Yeshu, não teria morrido mas teria sido elevado aos céus por Alá (Alcorão 4:157-158), enquanto Judas foi crucificado como seu sósia.
Em apenas 200 anos os exércitos árabes haviam conquistado o norte da África, a península arábica e a Ásia Central, seguido da Espanha (entre os séculos VIII e XV), Portugal, parte da Índia e China, sendo a tolerância religiosa uma regra, principalmente entre judeus e cristãos (“Não fazemos distinção entre eles, e a Ele nos submeteremos” – Alcorão 2:136). O estímulo à busca de conhecimento, feito por Maomé (“aquele que sai de casa em busca de conhecimento está trilhando o caminho de Alá”), fez os árabes viverem uma época áurea na matemática, astronomia, medicina e química, fundando centros de conhecimento como o da Universidade de Azhar no Cairo, no século X, que atraiu muçulmanos de todo o mundo.
Em 1.095 o Papa Urbano II ordenou um ataque para retomar Jerusalém, dando início às Cruzadas, que duraram dois séculos, iniciando a decadência do Islã. Um profundo ressentimento pela perda de sua glória se formou no coração dos muçulmanos, estimulando o fechamento mental religioso, através de uma interpretação mais dura do Corão.
Em 1.453, com a conquista de Constantinopla pelos árabes, iniciou-se o Império Otomano sob o comando do sultão Osman, de etnia turca, o qual retomou quase todas as terras do antigo império árabe. Em 1.492 a rainha Isabel e o rei Fernando, da Espanha, reinstalam o catolicismo, com a conversão forçada sob a égide da Santa Inquisição. Com o progresso europeu, a partir da metade do século XIX, quase todos os países islâmicos foram dominados, primeiro economicamente, e depois militarmente por potências européias. Apesar disso o islamismo sobreviveu em muitas regiões e desde então, até hoje, tentativas de se criar estados baseados no livro sagrado do Corão fracassaram, fazendo surgir movimentos de resgate dos fundamentos da religião, que ignoram preceitos básicos como respeitar as “religiões do Livro” (cristãos e judeus – Alcorão 29:46) ou não matar inocentes – os fundamentalistas.
De acordo com a facção e a época histórica, vários títulos religiosos e políticos surgiram no mundo islâmico. Quando falece Maomé, seu discípulo Abu Bakr assume como Califa (Khalifah), “sucessor”. O termo Imã é um dos mais polêmicos. Para os sunitas (vide adiante) é conferido aos Califas, aos teólogos e figuras notáveis, e para os xiitas o Imã é um iluminado que detém o poder secular e espiritual. Às autoridades na teologia islâmica, os termos Mulá (mawla, senhor chefe), xiita, e Ulemáulama (detentor de conhecimento), sunita, são equivalentes, enquanto Aiatolá (ayat Allah, manifestação de Deus) designa o mais alto grau dos Mulá. O termo Xeque (shaykh, ancião) é atribuído a qualquer autoridade religiosa e Xá (do termo persa xah, rei) designa líderes políticos, no Irã. Para líderes políticos, outros termos são atribuídos, como: Marajá e Rajá, ao norte da Índia, Vizir e Grão-vizir, no Império Otomano, Emir, no Qatar e Bahrein, o Sultão, em Omã e Brunei, e Paxá, na Turquia.