Yamas

Brahm?c?rya

“Somente aquele que possui domínio sobre seu mundo interno de desejos pessoais e está focalizado em seu Eu Supremo, esse é um liberto”. BG 6:18

A raiz sânscrita ‘car’ significa mover-se ou seguir e Brahm? é o Primogênito manifestado. ?c?rya, em sânscrito, quer dizer ‘sem falha’ denotando que há um ensino baseado no próprio exemplo. Brahm?c?rya seria, então, o movimento em direção ao Essencial, tornando a vida centrada e conduzida unicamente por Brahma?. É mover-se em direção a Brahma? com o firme propósito de auto-realização Nele: ‘agora, Brahma? é o meu exemplo’.

O Manu-Sm?ti (livro de Manu) divide a vida humana em quatro estágios: brahm?c?rya (estudante), g?hasth?? (em família), vanaprastha (retirante) e sa?ny?si (renunciante). Na fase brahm?c?rya, o estudante (por volta dos 7 anos de idade), após uma cerimônia de passagem conhecida como upanayanam, direciona sua vida à Brahma? através do estudo, tradicionalmente, com um mestre espiritual ou Guru. Upanayanam (upa – ‘auxiliar’ e nayanam – ‘olho’), quer dizer algo como trazer a Verdade Última para mais próximo da visão.

Mas quando termina os estudos ele deve, imediatamente, casar e constituir uma família. Assim, brahm?c?rya não implica necessariamente um voto de castidade, mas um comportamento responsável com relação ao objetivo de se mover em direção à Verdade 1:156, embora o termo também se refira ao voto de celibato que o sa?ny?si (monge) faz quando percebe que nenhum prazer material ou sensual traz a perfeita felicidade que sua alma tanto almeja.

Os mais liberais associam brahm?c?rya com a abstinência de manifestações de ordem sexual e sensual que não visem à procriação, como o homossexualismo, a masturbação ou práticas sexuais pervertidas, liberando o uso do sexo e da sensualidade em ambiente familiar com vistas à reprodução somente. Já outros o associam à completa abstinência de manifestações eróticas e sensuais, em pensamento, sentimento ou ação: ser celibatário.

Para a filosofia tântrica, Brahma? pode ser encontrado em todas as manifestações de sua criação, inclusive no relacionamento sexual. Afirma que o ato sexual pode ser encarado como um ritual divino e, assim, recomenda, resumidamente, que haja uma abstenção do êxtase orgástico físico e que se evite relações sexuais com pessoas que não se dediquem ao mesmo ideal de saúde e purificação.

Diversas pesquisas científicas demonstram a relação entre saúde e a não emissão de esperma ou com a produção e economia de energia sexual. Mas brahm?c?rya, em um nível mais profundo, não é celibato nem ausência de orgasmo, visando uma mera economia da energia sexual e sensual e sim a capacidade de experimentar os prazeres de estar encarnado sem estar apegado a eles, numa busca eterna por senti-los.

Assim, brahm?c?rya não é uma mera fuga dos prazeres mundanos (físicos, emocionais e mentais), nem uma repressão se eles estiverem presentes, mas abrange a completa liberdade do anseio por qualquer tipo de prazer sensorial: não-indulgência no comer, no beber, no dormir, etc.. É o constante estudo, exercício e prática (abhy?sa) do desapego (vair?gya) como chave para a extinção dos kle?as.

“A continência, ou controle, de nenhuma forma contradiz ou se opõe à alegria do prazer. Realmente a intensifica. Brahm?c?rya se viola somente quando o prazer é a única motivação”.

B. K. S Iyengar 2

Nesse sentido, a observância de brahm?c?rya não deve induzir ao moralismo e puritanismo, nem ao distanciamento ou à falta de afeto entre as pessoas, nem como pretexto para furtar-se ao contato íntimo com o cônjuge. Sem brahm?c?rya não há evolução espiritual, pois esse yama é uma potente arma e escudo quando se entra, como guerreiro espiritual, na batalha contra os nossos apegos sensoriais, principalmente contra as forças da luxúria e da gula.

Enquanto o brahm?c?rin usa os olhos para perceber a glória de Deus, os outros os usam apenas para olhar o mundo de vaidade que os circundam. Enquanto o brahm?c?rin nada ouve senão o louvor de Deus, os outros enchem os ouvidos com ninharias. Enquanto o brahm?c?rin faz freqüentes vigílias, até tarde da noite, consagrando-se à prece, ao estudo e à meditação, os outros gastam suas noites em alegrias tolas. Enquanto o brahm?c?rin nutre o homem íntimo, com o fim único de manter em bom estado o templo de Deus, os outros se alimentam para transformarem o Vaso Sagrado de Deus (seus corpos) em depósito de gorduras e resíduos.

Um e outro vivem como dois pólos. A distância que os separa só tende a aumentar com o tempo, nunca diminuir. Os objetos dos sentidos, desviando-se da alma que deles se abstém, deixam a recordação do prazer sensorial que somente desaparece com a compreensão da realidade de Brahma?.

 O aspirante ao brahm?c?rya sempre terá consciência de suas deficiências e não se deixará, jamais, ser encurralado pelas paixões que rastejam ainda nos recantos mais obscuros de seu coração e lutará, sem tréguas, para delas se desembaraçar. Quanto mais energia o aspirante preserva (incluindo aqui a emissão de fluido seminal), abstendo-se da busca por prazeres, mais energia vital (pr??a) ele armazena. Quando a energia acumulada provém da preservação da energia sexual produzida mentalmente, essa energia transforma-se num tipo mais sutil de energia conhecida como ojas.

Quanto mais êxito o buscador obtiver, na prática de brahm?c?rya, mais força e determinação ele obterá, proveniente do próprio acúmulo de energia, para manter-se fiel ao seu propósito. A essa força, resistência, vigor e determinação Pat?ñjal? denomina v?rya YS II:38, necessária para atingir níveis mais altos de superconsciência YS I:20. A palavra v?rya combina, em si mesma, as conotações de energia, determinação, coragem e todos os aspectos de uma vontade indomável capaz de sobrepujar todos os obstáculos que encontrar no caminho YS I:20. Já o acúmulo de ojas, proveniente da economia de energia sexual, cria um tipo de energia mais sutil ainda, denominada tejas, fonte de uma aura, ou brilho, que se pode notar em todos os santos que se realizaram em brahm?c?rya.

Assim, quanto mais perfeito em brahm?c?rya o buscador se torna, mais próximo de Brahma? ele chega, mais ele gera correntes magnéticas sutis de virilidade (pr??a) e mais sem falhas (?c?rya) ele se torna. Em outras palavras, estando firmemente estabelecido em brahm?c?rya, surge uma fortaleza física, mental e espiritual que é mantida pela Infinita Energia Criadora: Brahma?.

 

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