Yamas

Asteya

“… se estamos numa situação em que alguém nos confia algo, ou deposita em nós sua confiança, não devemos tirar vantagem disso”  1:155.

T. K. V. Desikachar

Asteya é a abstenção do roubo (a – não e steya – roubar), tanto na sua forma violenta quanto na sua forma furtiva. Significa que, todas as vezes que nos apropriamos, de forma indébita, daquilo que por direito pertence a outros, estamos ferindo asteya. Mas asteya vai além da simples apropriação indébita de bens, coisa impensável para a consciência de muitos, mas inclui o plágio, a apropriação indébita do crédito de coisas não realizadas, a apropriação de direitos ilegítimos, o uso de outras pessoas em nosso próprio proveito e até evitar que outros usem coisas que estejam em nossa posse.

Sentimo-nos importantes quando nos julgam poderosos, inteligentes, compreensivos, etc., mesmo tendo plena consciência de não o sermos, e, pior, na maioria das vezes usamos máscaras que demonstram ao mundo externo coisas que não somos, práticas que não fazemos. Aqui estão presentes a mentira e a apropriação indébita de uma imagem que não nos pertence com o fim de se auferir algum tipo de benefício ao falso ‘eu’.

Ficamos extremamente satisfeitos quando alguém se esquece de nos cobrar o pagamento de algo, ou quando nos dão um troco errado, ou quando nos deixam entrar de graça em festas ou usufruir algo do qual não temos o direito adquirido. Compramos e não pagamos e buscamos todas as formas de vantagens pessoais sem termos feitos nada para ter direito a essas benesses.

Asteya baseia-se na igualdade de direitos entre todos os seres e, assim, toda forma de supressão de direitos de outrem também é uma forma de roubo. Assim condena a exploração, a escravidão e a corrupção. Endêmica em nosso mundo, corromper e se deixar ser corrompido não são mais do que formas sutis de roubo. Mas, novamente, as formas mais evidentes de corrupção são impensadas para a consciência de muitos e essas mesmas pessoas se deixam levar por formas mais sutis de corrupção, como, por exemplo, prometer um presente (uma recompensa) para uma criança se ela fizer determinada coisa, que nada mais é que uma forma sutil de subornar e corromper.

Receber propina para cumprir o dever, ou até para não cumprir o dever, é fato comum à nossa volta. Presentear, antes uma forma de demonstrar afeto e amor por outrem, tem sido apenas uma forma de agradar com vistas a se conseguir favores de volta, pois, quando recebemos presentes e favores, nos sentimos devedores e perdemos nossa liberdade de agir segundo nossa própria consciência, ante a possibilidade de cobrança de algum tipo de retribuição por parte do presenteador: fomos roubados em nossa liberdade.

“Quem oferece um presente porque espera lucro ou vantagem  BG 17:21 … [ou pratica] obra… com desejo de recompensa, na esperança de receber em troca algo melhor, por vaidade, ganância ou ostentação – esse reveste a índole de cobiça”.  BG 17:12

Assim, aceitar presentes quando não há nenhum motivo para isso, é uma forma sutil de ferir asteya passivamente. Mas, talvez, a forma mais sutil de roubo seja o roubo de tempo e de energia do outro. Esse último, conhecido como vampirismo emocional e mental, está embutido nos dramas de controle psicológico que aprisionam as pessoas uma às outras num ciclo vicioso de dependência mútua. Somente quando passamos a perceber as formas mais evidentes de roubo, é que estaremos aptos a percebermos essas suas formas mais sutis, das quais somos totalmente inconscientes.

Nada na Natureza nos pertence, enquanto ego, mas achamos que podemos nos apoderar de tudo (alimento, bebida, ar, etc.) e de todos. Esquecemos que, na realidade, a Natureza nos empresta tudo para que usemos em nosso proveito e devolvamos algo em troca, mas diariamente seguimos querendo muito e retribuindo pouco. Somos muito pouco agradecidos à Fonte. Desenvolver asteya é desenvolver uma humilde gratidão, a tudo e a todos, e uma vontade de dar e retribuir mais do que receber e possuir. Na verdade, dar é a mesma coisa que receber e quanto mais damos mais recebemos.

Por isso, quanto mais perfeito em asteya o buscador se torna, mais ele gera correntes magnéticas sutis de gratidão e doação a ponto de recebermos na medida direta da quantidade e intensidade de nossa gratidão e doação. Ou seja, estando firmemente estabelecido em asteya, todas as riquezas (físicas e espirituais), automaticamente e sem nenhum esforço, se nos apresentam em abundância YS II:37. Nossa personalidade passa a ser um espelho no qual a Mente Suprema, fonte de toda a abundância, é refletida.

 

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