A Cruz e a Trindade

A cruz, como o círculo, está entre os mais antigos e universais símbolos. Enquanto o círculo é a representação do Inefável, de onde tudo procede e para onde tudo há de voltar, todas as mitologias falam da cruz como um símbolo de purificação e salvação.

Nas sociedades anteriores à escrita a cruz freqüentemente representava a conjunção de dualidades. O braço horizontal era associado com o terrestre, mundano, feminino, temporal, destrutivo e negativo, passivo e com a morte, enquanto o vertical conota o celestial, espiritual, masculino, eterno, criativo, positivo, ativo e com a vida. Freqüente símbolo dos quatro elementos astrológicos (terra, água, fogo e ar), a cruz também era encarada como o eixo cósmico de onde se irradia as quatro dimensões espaciais de altura, comprimento, espessura e distância, tão como as quatro direções: norte, sul, leste e oeste. É o símbolo que marca o início da existência humana e sua descida à matéria.

O “T” simples em forma de cruz era chamado na Grécia de letra “tau”. É freqüentemente citado como a cruz do Antigo Testamento, porque Moisés supostamente colocou uma serpente de bronze sobre uma cruz em “T” (Nm 21:6-9), e, de acordo com a tradição, os israelitas na noite da páscoa judaica marcavam nas suas portas, com sangue, uma cruz em forma de “T” para identificá-los como seguidores de Jeová (Ex 12:22-24). Ezequiel marcava os judeus com esse símbolo (Ez 9:4). Outro nome para a cruz em “T” é “crux comissa”.

A letra “ankh” (a cruz Ansata) era o “T” egípcio antigo (uma cruz com a parte superior em forma de laço) e simbolizava a essência da vida e as energias criativas do masculino e feminino. Um símbolo da união entre o círculo e a cruz, entre Deus e o homem. Corresponde ao sopro da vida (uma idéia semelhante à criação de Adão, na Cosmogonia Cristã). Para os egípcios, era a cruz da vida no Universo, como símbolo da imortalidade, colocavam-na sobre o peito dos cadáveres. Traria a prosperidade e a lucidez necessária para tomar decisões acertadas diante dos desafios do dia a dia. Representava ainda o Laço da Sandália do peregrino, do buscador, daquele que quer evoluir, aprender, crescer. Uma cruz sobre a qual se deve sacrificar todas as paixões humanas.

Foi, junto com o disco solar, o símbolo da breve experiência monoteísta (culto a Aton ignorando os outros 45 deuses) do Egito antigo, no reinado do faraó Akenaton (1.367-1.350 a.C.), o pai de Tutankhamon. A cruz Ansata é um dos hieróglifos egípcios e pode ser facilmente encontrada em toda a literatura que mostra a pictografia egípcia e nos ombros das imagens da Ilha de Páscoa. Em muitas pinturas egípcias, o deus Rá (o Sol) está com seus braços colocando esta cruz no nariz das pessoas – 1.400 a.C..

Na Ásia antiga, Europa e civilizações americanas pré-colombianas a suástica (croix cramponnée) ou cruz gamada, aparece como símbolo do poder e movimento solar. É uma cruz cujas extremidades se estendem no sentido horário, fazendo imaginar um movimento circular da cruz, mais uma vez unindo o círculo e a cruz num só símbolo. Os hindus e brâmanes (svástica, em sânscrito, quer dizer condutora do bem estar) vêm a cruz gamada como um sinal de resignação, e os budistas consideram-no um símbolo da mente de Buda. O Bonismo adotou esse símbolo (Yungdrung) como sua marca. Os nazistas alemães, por sugestão de Guido von List, adotaram a suástica como o logotipo de seu partido porque eles sabiam ser um símbolo dos antigos Escandinavos, o martelo (Mjollnir) de Thor que esmaga a cabeça da serpente Jormungand no Juízo Final (Ragnarok) – vide adiante.

Conhecida também como cruz alada, ou cruz de fogo, a suástica representa a energia geradora do Universo, a ação de girar, os eternos ciclos. Era conhecida dos Maias e dos Navajos americanos, pelos sacerdotes de Tróia, entre os antigos peruanos, assírios e caldeus. Era colocada sobre o peito dos místicos falecidos e no coração das estátuas e imagens de Buddha (no Tibete e na Mongólia). Hoje ainda é símbolo de tradições como a teosofia, algumas tântricas hindus, do budismo, do jainismo e da Seicho-No-Ie.

A barra ereta maior e a transversal menor, usada, segundo a Bíblia Sagrada, para crucificar Jesus Cristo (suplício inventado pelos fenícios e adotado pelos romanos), e conhecida como cruz latina, tornou-se o principal símbolo do Cristianismo. Ante à perseguição dos primeiros cristãos, ela não era descrita amplamente. No segundo século cristão, o sinal da cruz já tinha se tornado um gesto de identificação, benção e proteção do maligno. A Chi-Rho (X-P), uma cruz formada pela junção das duas primeiras letras da palavra grega para Cristo, foi usada como símbolo cristão nos quatro primeiros séculos do cristianismo. A cruz era também, com freqüência, disfarçada na forma de uma âncora ou outros objetos mundanos. Na Igreja Romana, o sinal da cruz é feito da esquerda para a direita e nas Igrejas Ortodoxas Orientais da direita para a esquerda.

Mais de 50 variantes surgiram, mas as mais importantes são a cruz grega, que com seus braços eqüilaterais tem seu freqüente uso nas Igrejas Ortodoxas Gregas e Orientais (crux quadrata), e a cruz latina, preferida pelo Ocidente, ou Igreja Católica Romana.

Outros desenhos incluem o diagonal, em forma de “X”, cruz em que Santo André foi crucificado (crux decussata), e a cruz Patee, em que os braços são largos nas extremidades. Uma variante dessa cruz é a conhecida como cruz de Malta, que tem oito pontas e representa uma cruz simples que se expandiu, indicando o sacrifício realizado e consumado. A celta (cruz ou crux immissa), desenvolvida na idade média na Irlanda e Escócia, é diferenciada por um círculo ao redor do ponto de cruzamento das barras. Duas barras regulares indicam a cruz de Lorraine, associada com arcebispos e patriarcas, enquanto que a cruz papal tem três barras regulares. Uma variante da cruz de Lorraine usada comumente pelo Oriente Ortodoxo, tem uma barra horizontal colocada diagonalmente próximo à base. Iona

O local da cruz também tem seu simbolismo: cruzes montadas em esferas ou globos lembram o triunfo global do cristianismo, uma cruz fincada em um templo pagão indica a vitória do cristianismo, e um território, conquistado por cristãos, sempre tinha uma cruz fincada ao solo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *