Shankaracharya (Shânkara), o maior filósofo da Índia, usando de lógica e encanto, interpretou os Vedas com espírito monista (sistema filosófico segundo o qual o Universo é feito de uma única substância, que se opõe ao dualismo da matéria e do espírito): “…nada existe senão Brahman, ‘Único e sem segundo’”. Esse sentido monista embutido sob a variedade dos deuses védicos passa então a ser ressaltado explicitamente. Escreveu comentários sobre dez das 16 Upanishads, consideradas as principais. Juntos constituem o principal foco da religião hindu: Isha, Kena, Katha, Prasna, Mundaka, Mandukya, Taittiriya, Aitareya, Chandogya e Brihadaranyaka.
Shânkara foi uma combinação rara de santo, erudito e homem de ação, um grande confortador e reformador promovendo uma unidade religiosa e nacional. Viveu 32 anos, viajando a todos os recantos da Índia. Alguns acham que viveu no século VI a.C., outros que viveu de 44 a 12 a.C..
Conhecido como bramanismo, essa visão na realidade não foi uma nova religião, mas um aprofundamento teológico dos velhos textos. O politeísmo védico é aí interpretado como véu simbólico tecido em torno da concepção monista de uma Realidade Máxima, a qual transcende todas as coisas: Parabrahman, “o fio unificador da teia cósmica, o solo último de todo ser”. Como já dito, o homem é Atma, uma centelha de Brahma.
“No princípio era o Senhor das Criaturas: depois dele vinha a Palavra… A Palavra era na verdade Brahman”.
Vedas
O hinduísmo é centrado na superação do ciclo das sucessivas encarnações – o Samsara budista. Essa superação é determinada pelo carma de cada indivíduo, saldo de existências anteriores e de ações e reações acumuladas. A partir do carma se definem as noções de destino e de desejo (como força determinante do destino) e a forma como ambos se encadeiam nos diferentes momentos da vida de cada um. Aquela superação passa pela disciplina do Yoga, a meditação hindu – descrito no Swetasvatara ?pani?ad.
Em sua cosmogonia, bastante rica e detalhada, encontramos uma fonte inesgotável de sabedoria:
“O Poder Majestoso, existente por si mesmo, tornou-se metade masculino e metade feminino, ativo e passivo, produzindo Viraj” (o Filho).
Livro I de Manu, verso 32
Ensina a existência de uma Divindade chamada Parabrahman, ou Brahman, que existia apenas como Consciência antes da criação do Universo, o Absoluto que nunca pode ser alcançado e só pode ser compreendido em Seu próprio nível, ou seja por Si mesmo. Ele apresenta três aspectos, ou faculdades divinas: o Eterno Masculino (Nara), o Eterno Feminino (Nari) e o Verbo Criador (Viraj). Os princípios, intelectual, plástico e produtor, que são representações dos poderes de Parabrahman, são corporificados em outra Trindade: Sat, Tat e Aum (Pai, Mãe e Filho).
O Verbo, Aum, é a terceira pessoa da Santíssima Trindade ortodoxa, o Cristo (Jo 1:1-18), que é a verdadeira Luz, a Divindade Manifestada (Logos), a Vontade pura do Pai-Mãe (o Espírito de Deus – Gn 1:1). O Aum dos Vedas tornou-se a palavra sagrada Hum dos tibetanos, Amin dos muçulmanos e AMÉM (“seguro, fiel” em hebraico) dos egípcios, gregos, romanos, judeus e cristãos: “a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus” (Ap 3:14).
Esse Verbo Criador (esplendor da glória de Deus e imagem do Seu ser – Hb 1:3 e Jo 17:21s) desce à manifestação (o Primogênito manifestado – Jo 8:58, Jo 17:5, Cl 1:15-20, Fl 2:6, Hb 1:2) de três formas (a Trimurti: Brahma, o Criador, Vishnu, o Preservador – e seus Avatares, e Shiva, o Destruidor), criando três mundos: o divino, o humano e o natural (o Espírito, a Alma e o corpo), e sustentando-o com o poder de sua palavra (Hb 1:3).
Em cada um desses três mundos os princípios masculino e feminino se fazem presentes como essência e substância. A energia feminina do Universo Manifestado é representada na figura da virgem sagrada Shakti, presente nos três mundos. Dessa forma, da união, ou seja, pela interação das forças de Shiva e Shakti o mundo é criado: “Estar unido a Shakti é ser cheio de poder”.