O Cristianismo (Catolicismo) – cont. 2

Coincidentemente, ou não, as principais festas cristãs são móveis e seguem também as datas das festas pagãs. Os festivais ao deus Pã eram muito populares devido às orgias, sendo celebrados nos Equinócios e Solstícios. A Igreja Romana teria sido forçada a incorporar estes rituais em sua liturgia, visto ser impossível eliminá-los e sabiamente fez deles os festivais mais importantes do culto a Nosso Senhor Jesus Cristo: a Páscoa (com Corpus Christi), o Natal (que comemora o nascimento de Jesus Cristo), o dia de “São João Batista” e o dia de “São João Apóstolo”. Em 300 já era costumeira a oração pelos mortos e o sinal da cruz.

A Páscoa é celebrada no primeiro Domingo que se segue à primeira Lua cheia após o equinócio de primavera (21 de março). Preocupada com a inconsistência da data, no Concílio de Nicéia (325 d.C.) a Igreja Católica criou as Tabelas Eclesiásticas onde fixava datas para o dia da lua cheia (a lua eclesiástica). Do domingo anterior à Páscoa, até esta, deu-se o nome de Semana Santa, e incluiu-se a celebração da Eucaristia (5a feira), a memória da morte de Jesus (6a feira) e a festa da ressurreição ou Páscoa (domingo). O Pentecostes, celebrado 50 dias após a Páscoa, comemora a vinda do Espírito Santo e o dia de cinzas é comemorado 40 dias antes do início da Semana Santa, sendo o período entre essas duas datas (cinzas e Páscoa) conhecido como Quaresma (período de reavaliação de conduta, recordando os 40 dias de jejum no deserto praticado por Jesus). O Corpus Christi ou festa do Corpo de Cristo, introduzida no século XII, celebra a presença real de Jesus na Eucaristia.

Aliás, foi Constantino que promulgou, em 321, decreto instituindo o domingo como uma festividade pública em todo o império romano, em veneração ao deus Sol. Quando da concessão de culto aos cristãos, os interesses mútuos fizeram com que os cristãos paulatinamente exaltassem o domingo como dia santo em substituição ao sábado, dia santificado judeu (Gn 2:2s, Ex 20:8-11, Is 58:13s e Mc 2:28).

Posteriormente, na época do Papa Silvestre I (314-335), a divisão dos dias da semana em ferias (comemoração em latim), ou feira em português, foi decretada. Desde os babilônios, esses dias eram nomeados em alusão aos sete corpos celestes conhecidos então: Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno. O Papa quis substitui-los por ferias prima, secunda, tertia, quarta, quinta, sexta e septima. A feria prima seria o dia da ressurreição de Jesus Cristo, mas o original prevaleceu tanto para o prima como para o septima, na língua portuguesa e quase todas as nações voltaram às denominações originais – ex.: Sunday, Monday, etc. no inglês; Lunes, Martes, Miércoles, Jueves e Viernes no espanhol;  Sontag no alemão, etc..

No ano 245, o teólogo Orígenes repudiava a idéia de se festejar o nascimento de Cristo “como se fosse ele um faraó”. De acordo com um almanaque romano, a festa já era celebrada em Roma no ano 336. Na parte oriental do Império Romano, comemorava-se em 6 de janeiro tanto o nascimento de Jesus quanto seu batismo. Quando o cristianismo se tornou a religião oficial de Roma (em 391), a data de 25 de dezembro passou a ser significativa, não devido a um estrito aniversário cronológico, mas sim à substituição, com motivos cristãos, das antigas festas pagãs. As alusões dos padres da igreja ao simbolismo de Cristo como sol de justiça (Mt 4:2) e luz do mundo (Jo 8:12), e as primeiras celebrações da festa na colina vaticana – onde os pagãos tributavam homenagem às divindades do Oriente – expressam o sincretismo da festividade, de acordo com as medidas de assimilação religiosa adotadas por Constantino. Então a festa de nascimento de Jesus passou a coincidir com o solstício de inverno, o dia mais curto do ano, em que o Sol vencia as trevas, celebrando o nascimento do “sol invicto” (Natalis soli invicte), ao qual a figura de Jesus foi associada. A festa do Natal foi instituída oficialmente no dia 25 de dezembro pelo bispo romano Libério, no ano 354, sob influência do Papa Júlio I (pontífice de 337-352) e de São João Crisóstomo (344-407), teólogo e patriarca de Constantinopla.

Desde então, as igrejas orientais passaram a adotar o dia 25 de dezembro para o Natal e o dia 6 de janeiro para a Epifania, manifestação de Jesus a todos os povos. No Ocidente, comemora-se nesse dia a visita dos Reis Magos. No mundo romano, a Saturnália, comemorada em 17 de dezembro, era um período de alegria e troca de presentes. O dia 25 de dezembro era tido também como o do nascimento do misterioso deus iraniano Mithra, o Sol da Virtude. Assim, o Natal, que já tinha sido comemorado em 130 datas diferentes por diversas seitas cristãs, como 20 de março e 28 de maio, passou a ser comemorado a 25 de dezembro, finalmente absorvendo o rito orgiástico ao deus Pã, que então tinha lugar na mesma data.

Adotou-se também a festa mais importante celta, o Samhain de 1o de novembro, o primeiro dia do ano celta, dando o nome de “dia de todos os Santos”. A partir de 375 já era costume a veneração dos anjos, de santos mortos e o uso de imagens e em 394 foi instituída a celebração diária da missa.

Até o século IV, as Igrejas não possuíam altares, era utilizada uma mesa no meio dos presentes para o repasto fraternal, à noite. Ao contrário do que se pensa, sentiam horror aos altares e templos pagãos, considerando-os como uma abominação. “Nós cristãos … não possuímos templos e altares… Que imagem de Deus levantaríamos, desde que o homem é em si mesmo a imagem de Deus? Que templo poderíamos levantar à Divindade, quando o Universo, que é Sua obra, pode dificilmente contê-la? Como colocar o Onipotente em um só edifício? Não é melhor consagrarmos um templo à Divindade em nosso coração e em nosso espírito?”. Tinham presente na memória os ensinamentos de Jesus Cristo, de não rezar nas sinagogas e nos templos, como fazem os hipócritas, para serem vistos pelos homens (Mt 6:5s). Lembravam-se de São Paulo que dizia que o homem era o único templo de Deus, no qual o Espírito Santo permanecia (1 Cor 3:16s e 6-19; 2 Cor 6:16). “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há… não habita em templos feitos por mãos humanas…” (At 17:24 e 7:48ss). O costume de adoração em templos remonta ao reinado de Deocleciano (284-304).

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