O Farol do Desconhecido

-III-

            Os nossos gentis críticos sabem sempre de que estão rindo? Têm eles a mínima idéia do trabalho que está sendo realizado no mundo e as mudanças mentais que estão sendo trazidas pela Teosofia de que tanto acham graça? O progresso devido a nossa literatura já é evidente, e, graças aos trabalhadores incansáveis de certo número de Teosofistas, está começando a ser reconhecido mesmo pelos mais cegos. Não são poucos os Teosofistas que estão persuadidos que a Teosofia será a filosofia e o código moral, senão a religião, do futuro. Os reacionários cativados pelo dolce far-niente do conservadorismo o sentem, daí o ódio e perseguição que clama a crítica para seu apoio. Mas a crítica, inaugurada por Aristóteles, afastou-se de seu padrão inicial. Os antigos filósofos, aqueles sublimes ignorantes, de acordo com a civilização moderna, quando criticavam um sistema ou trabalho, o faziam imparcialmente, com o único objetivo de melhorar e aperfeiçoar aquilo que achavam errado. Primeiro estudavam o assunto, e depois o analisavam. Era um serviço de doação, reconhecido e aceito por ambas às partes. Sempre a crítica moderna está em conformidade com esta regra de ouro? É evidente que não. Nossos julgamentos hoje estão bem abaixo do nível mesmo da crítica filosófica de Kant. A crítica, que possui impopularidade devido a seus cânones, os substituiu por aquela da “razão pura”; e o crítico termina rasgando em pedaços com seus dentes tudo que não compreende, e especialmente aquilo que não interessa compreender. No último século – a idade de ouro da pena de ganso – a crítica foi algumas vezes forte; mas mesmo assim fez-se justiça. A mulher de César poderia ser suspeita, mas nunca seria condenada, sem antes ser ouvida a sua defesa. Em nosso século os prêmios Montyon¨ e estátuas públicas são para aqueles que inventam a máquina de guerra mais mortífera; hoje, quando a caneta de ferro substituiu sua mais humilde predecessora, as presas do tigre de Bengala ou os dentes do terrível sáurio do Nilo fariam ferimentos menos profundos do que a pena de ferro do crítico moderno, que se encontra quase sempre ignorante daquilo que despedaça com os dentes tão ferozmente.

            É de alguma consolação, talvez, saber que a maioria dos críticos literários, continentais e transatlânticos, é de ex-escribas que fizeram fiasco na literatura, e estão agora descontando por sua mediocridade em tudo que encontram. O delicado vinho azul, quando insípido e processado, quase sempre se torna um vinagre forte. Infelizmente, os repórteres da imprensa, em geral (pobres diabos, sedentos de promoção), para com quem nos desculpamos ao desfazer o pouco que fazem – mesmo as nossas custas – não são apenas nossos mais perigosos críticos. Materialistas e intolerantes – os cordeiros e os bodes da religião – tendo por sua vez nos colocado em seu index expurgatorius,fraudulentos e enganadores. Outra – âme damnée de Hackel – enquanto colocando a credulidade como venda como aquela do intolerante em sua crença na evolução do homem e do gorila como tendo um ancestral comum (considerando a total ausência de todo o traço na natureza de qualquer elo de conexão), que se sacode em riso quando descobre que seu vizinho acredita em fenômenos ocultos e manifestações psíquicas. Entretanto, nem o descrente nem o homem de ciência, nem mesmo os acadêmicos, enumerados entre os “Imortais”, podem explicar-nos os menores problemas da existência. Os metafísicos que por séculos têm estudado o fenômeno do ser em seus princípios fundamentais, e que sorrirão de pena enquanto escutam aos murmúrios da Teosofia, ficarão muito embaraçados de explicar-nos a filosofia ou mesmo a causa dos sonhos. Quem deles nos poderá dizer porque todas as operações mentais, com exceção da razão, cuja faculdade apenas acha-se suspensa ou paralisada – funcionam enquanto dormimos com muito mais atividade e energia do que ao estarmos despertos? O discípulo de Herbert Spencer mandaria alguém que lhe perguntasse esta questão para o biologista. Este, para o qual a digestão é o alpha e o omega de todo o sonho – assim como a histeria, aquele grande Proteus de diversas formas, que está presente em todos os fenômenos psíquicos – não poderia de maneira alguma nos satisfazer. Indigestão e histeria são, de fato, irmãs gêmeas, duas deusas para quem o moderno fisiologista irigiu um altar no qual ele mesmo se constituiu o padre oficiante. Isto é de sua própria escolha, desde que não se intrometa com os deuses de seus vizinhos. nossos livros são banidos de suas bibliotecas, nossos jornais são boicotados, e nós mesmos sujeitos ao mais completo ostracismo. Almas piedosas, que aceitam literalmente os milagres da Bíblia, acompanhando com emoção as investigações ictiográficas de Jonas na barriga da baleia, ou a jornada trans-etérica de Elias, voando como salamandra, em sua carruagem de fogo, e que, no entanto, vêem os Teosofistas como

            De tudo isto se segue que, desde que os Cristãos caracterizaram a Teosofia como “ciência amaldiçoada” e de fruto proibido; desde que o homem de ciência nada vê na metafísica a não ser “o domínio do poeta maluco” (Tyndall); desde que o repórter a toca apenas com o fórceps envenenado; desde que os missionários associam-na com a idolatria dos “benditos Hindus”, segue-se, dizemos, que a pobre Theo-sophia é tratada vergonhosamente em relação ao que era quando os antigos a chamavam de a VERDADE – enquanto eles a relegaram ao fundo do poço. Mesmo os “Cristãos” cabalistas, que se amam verem refletidos nas negras águas deste poço profundo, apesar de não verem nada a não ser o reflexo de suas faces, que eles confundem com a verdade, mesmo os Cabalistas declaram guerra a nós! . . .Entretanto, tudo isto não é razão para que a Teosofia não tenha algo a dizer em sua própria defesa, e em seu favor; ou que pare de assegurar seu direito de ser ouvida; ou porque seus leais e devotados servidores devam negligenciar seu dever se mostrando derrotados.

            A “ciência amaldiçoada”, dizem vocês, Gentis-homens montanheses? Devem se lembrar, entretanto, que a árvore da ciência é grafitada (desenhada) da árvore da vida; que o fruto que vocês declaram “proibido”, e que vocês proclamaram durante dezoito séculos de ser a causa do pecado original que trouxe a morte ao mundo, que este fruto, cuja flor floresce numa haste imortal, foi nutrida pelo mesmo caule, e por isso é o único fruto que nos assegura a imortalidade. E vocês, Senhores Cabalistas, são ou ignorantes do fato, ou desejam negar, que a alegoria do paraíso terrestre é tão velha quanto o mundo, e que a árvore, o fruto, e o pecado teve uma vez um significado mais profundo e mais filosófico que hoje em dia, desde que os segredos da iniciação foram perdidos.

            Protestantismo e Ultramontanhismo são opostos a Teosofia, assim como eram opostos a tudo que não emanasse de si mesmos; como o Calvinismo se opunha a substituição de seus dois fetiches, a Bíblia Judaica e o Sabath, pelo Evangelho e o Sábado Cristão; como Roma se opôs a educação secular e a Franco Maçonaria. A letra morta e a Teocracia tiveram, entretanto, seus dias. O mundo deve se mover e avançar, sob pena de estagnação e morte. A evolução mental progride pari passu com a evolução física, e ambas avançam em direção à VERDADE UNA, que é o coração, assim como a evolução é o sangue, do sistema da Humanidade. Deixemos a circulação parar por um momento, e o coração para, e tudo está por conta da máquina humana! E são os servidores de Cristo que desejam matar, ou pelo menos paralisar, a Verdade com rajadas de um clube chamado “a letra que mata!” Aquilo que Coleridge disse do despotismo político aplica mais ainda ao despotismo religioso. A Igreja, a não ser que retire sua pesada mão, que pesa como um pesadelo nos peitos oprimidos de milhões de crentes nolens volens, e cuja razão permanece paralisada pelo poder da superstição, a Igreja ritualística está sentenciada a forçar seu lugar como religião e – morrer. Breve terá que escolher. Pois, uma vez que as pessoas se tornam esclarecidas sobre a verdade que ela esconde com tanto cuidado, uma ou duas coisas acontecerão: ou a Igreja perecerá por meio das pessoas; ou de outro modo, se as massas são deixadas na ignorância e na escravidão à letra morta, perecerá com as pessoas. Os servidores da Verdade Eterna, que por eles foi tornada como um esquilo correndo em volta de uma roda eclesiástica, se mostrarão suficientemente altruístas para escolherem a primeira dessas necessidades alternativas? Quem sabe?

            Eu repito: é apenas a Teosofia, bem compreendida, que pode salvar o mundo do desespero, estabelecendo a reforma social e religiosa uma vez realizada na história por Gautama o Buddha; uma reforma pacífica, sem derramamento de uma só gota de sangue, permitindo a qualquer um permanecer na fé de seus pais se assim escolher. Para fazer isto, ter-se-á apenas que rejeitar os moldes parasitas de fabricação humana que no momento presente estão chocando todas as religiões e cultos no mundo. Deixe-o aceitar apenas a essência, que é a mesma em todas; a saber, o espírito que dá vida ao homem e no qual reside, e o torna imortal. Deixe cada homem inclinado ao bem achar seu ideal – uma estrela diante dele para guiá-lo. Deixe-o segui-la sem nunca se desviar do caminho, e assim quase que terá certeza de alcançar o “farol de luz” da vida – A VERDADE; não importa que busque e a encontre no fundo de um berço ou de um poço.

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