O Farol do Desconhecido

– VI –

Aquilo que os Teosofistas que se prendem a ciência ortodoxa e oficial tentam promulgar em seu próprio domínio, os ocultistas ou Teosofistas do “grupo interno” estudam de acordo com o método da escola esotérica. Se até o presente este método tem demonstrado sua superioridade apenas para seus estudantes, isto é, para aqueles que se prometeram ao voto de não revelar, aquela circunstância nada prova contra. Não apenas tem sido os termos, mágica e teurgia mal compreendidos, como também o nome Teosofia tem sido desfigurado. As definições assim dadas nos dicionários e enciclopédias são tão absurdas quanto grotescas. O Webster, por exemplo, na explicação da palavra Theosophia, assegura aos seus leitores que é uma “conexão direta ou comunicação com Deus e espíritos superiores”; e, adiante, que é “a obtenção de conhecimento e poderes sobrenaturais e superhumanos através de processos físicos [!?], como pelas operações da teurgia dos Platônicos, ou por processos químicos dos Filósofos do Fogo Alemão” Isto é palavrório sem sentido. É precisamente como se disséssemos que é possível transformar um cérebro quebrado em um do calibre de Newton, e desenvolver nele a geniosidade para a matemática, por cavalgar cinco milhas todos os dias num cavalo de madeira.

A Teosofia é sinônimo de Jñana-Vidya, e da Brahma-Vidyaª dos Hindus, e ainda de Dzyan dos adeptos trans-Himalaios, a ciência dos verdadeiros Raja Yoguis, que são muito mais acessíveis do que se pode pensar. Essa ciência tem muitas escolas no Oriente, mas suas ramificações são numerosas, cada uma se separando da raiz principal – a Sabedoria Arcaica – e modificando sua forma.

Mas, enquanto essas formas variam, advindo da Luz da Verdade, mais e mais em cada geração, a base das verdades iniciatórias permanece sempre a mesma. Os símbolos usados para expressar as mesmas idéias podem se diferenciar, mas em seu sentido oculto sempre expressarão os mesmos pensamentos. Ragon, o mais erudito Maçom de todos os “Filhos da Viúva”, disse o mesmo. Existe uma linguagem sacerdotal, a “linguagem mistério”, que a não ser que alguém a conheça bem, não poderá ir muito longe nas ciências ocultas. De acordo com Ragon, “construir ou fundar uma cidade” significa a mesma coisa que “fundar uma religião”; entretanto, esta frase, quando ocorre em Homero, é equivalente a expressão de distribuição do “suco de soma”, no Brahmanas. Significa “fundar uma escola esotérica”, não uma “religião”, como Ragon sentencia. Estava ele errado? Não pensamos assim. Mas como um Teosofista pertencendo à Seção Esotérica não se arrisca a contar a um membro comum da Sociedade Teosófica as coisas pelas quais ele prometeu manter segredo, assim Ragon achou-se na obrigação de divulgar meramente as verdades relativas a seus Trinosofistas. Ainda, e é bem certo que tenha feito pelo menos um estudo elementar da LINGUAGEM MISTÉRIO.

“Como pode alguém aprender essa linguagem?” Pode-se perguntar. Respondemos: estude todas as religiões e compare-as uma com as outras. Para aprender realmente necessita-se de um professor, um guru; para se conseguir sozinho necessita ser mais que um gênio; demanda inspiração como aquela de Amônio Sacas. Encorajado dentro da Igreja por Clemente de Alexandria e por Atenágoras, protegido pelos homens de conhecimento da Sinagoga e da Academia, e adorado pelos Gentis, “ele aprendeu a linguagem-mistério por ensinar a origem comum de todas as religiões e a fé comum.” Para fazer isto ele apenas teria que ensinar de acordo com os cânones antigos de Hermes que Platão e Pitágoras estudaram tão bem, e de onde eles tiraram suas respectivas filosofias. Poderemos nos surpreender se, ao acharmos nos primeiros versos do Evangelho de São João as mesmas doutrinas que estão contidas nos três sistemas de filosofia acima mencionados, como eles concluíram, com razão ainda maior, que a intenção do grande Nazareno foi de restaurar a ciência sublime da Sabedoria Antiga em toda sua integridade primitiva? Pensamos como o faz Amônio Sacas. As narrações da Bíblia e as estórias sobre deuses têm apenas duas possíveis explicações: ou são grandes e profundas alegorias, ilustrando verdades universais, ou são fábulas de nenhum uso a não ser para fazer o ignorante dormir.

Portanto todas as alegorias – Judaicas assim como Pagãs – contem verdades que podem ser apenas compreendidas por aquele que conhece a linguagem mística da antiguidade. Vejamos o que é dito sobre este assunto por aquele entre nossos mais distinguíveis Teosofistas, um Hebraico e um Platônico fervoroso, que conhece o Grego e o Latim como sua língua mãe, o Professor Alexander Wilder de Nova York: ¨

“A idéia básica dos Neo Platônicos era a existência da Uma e Suprema Essência. Este era o Diu ou “Senhor dos Céus” das nações Arianas, idêntico com Iaô dos Caldeus, e Hebreus, o IabeTiu ou Tuisto dos Norvergianos, o Duw das antigas tribos da Bretanha, o Zeus daqueles de Trácia, e o Júpiter dos Romanos. Era o Ser  – (Não-Ser), o Facit , Um e Supremo. É dele que todas as coisas procedem por emanação. Quem sabe algum dia um homem bastante sábio combinará esses sistemas em um único. Os nomes, dessas diferentes divindades, parecem freqüentemente, de terem sido inventados, sem que se prestasse nenhuma ou pouca atenção ao seu significado, mas principalmente no que diz respeito à este ou outra significação mística ligada  ao valor numérico das letras em sua ortografia.” dos Samaritanos, o

Este valor numérico é um dos ramos da “linguagem-mistério” da antiga linguagem sacerdotal. Foi ensinada nos “Mistérios Menores”, mas a linguagem em si foi reservada apenas para os altos iniciados. O candidato deveria sair vitorioso das terríveis provações dos Grandes Mistérios antes de receber instrução sobre ela. Por causa disto Amônio Sacas, como Pitágoras, faziam seus discípulos tomarem um voto de nunca divulgar as altas doutrinas para todos senão para aqueles a quem os princípios fundamentais já tivessem sido dados, e quem, portanto, já estivesse pronto para a iniciação. Outro sábio, que os precedeu por três séculos, fazia o mesmo com seus discípulos, dizendo para eles que falava por parábolas “in símiles”, “porque é dado a vocês conhecerem os mistérios do reino dos céus, mas para eles não é dado. . . porque eles vendo não vêem; ouvindo não ouvem, nem compreendem.” [Mateus, xiii, 11, 13.]

Portanto os “símiles” empregados por Jesus eram parte da “linguagem-mistério”, a língua sacerdotal dos Iniciados. Roma perdeu a chave para ela. Ao rejeitar a Teosofia e pronunciando-a um anátema contra as ciências ocultas a perdeu para sempre.

“Ame um ao outro”, dizia o grande Professor para aqueles que estavam estudando os mistérios do “reino de Deus”. “Preguem o altruísmo, mantenham a unidade, compreensão mútua e harmonia em seus grupos, todos vocês que se colocam entre os neófitos e os buscadores, atrás da VERDADE UNA”, outros Professores nos dizem. “Sem unidade, assim como simpatia intelectual assim como psíquica você chegará a nada. Aquele que semeia discórdia colhe furacão. . .”§

Cabalistas instruídos, altamente versados no Zohar e seus numerosos comentários, não faltam entre nossos membros, na Europa e especialmente na América. O que isso levou, e que bem fez até hoje para a Sociedade a que eles se juntaram no sentido de trabalhar para ela? A maioria deles, em vez de se unirem e ajudarem um ao outro, olham de soslaio para cada um, sempre prontos a gozarem um ao outro ou a se criticarem mutuamente. Inveja, ciúmes e o mais deplorável sentimento de rivalidade reina suprema na sociedade cujo principal objetivo é fraternidade! “Vejam como esses Cristãos amam um ao outro!”diziam os pagãos nos primeiros séculos dos Pais da Igreja que demoliramcada uma em nome do Mestre que abençoaram a elas com paz e amor. Os críticos e os indiferentes começam a dizer o mesmo que os Teosofistas, e eles estão certos. Vejam o que nossos Jornais estão se tornando – todos eles, com a exceção de The Path de Nova York; até o The Theosophist, o mais antigo de nossas publicações mensais, desde a saída para o Japão, cinco meses atrás, de nosso Presidente Fundador, belisca à esquerda e direita os calcanhares de seus colegas e colaboradores Teosofistas. De que maneira somos melhores do que os Cristãos dos primeiros Concílios?

“Na união está a força”. Esta é uma das causas de nossa fraqueza. Somos avisados a não lavar nossa roupa suja em público. Ao contrário, é melhor confessar as imperfeições abertamente, em outras palavras, lavar sua própria roupa suja, do que sujar a roupa de um dos irmãos em Teosofia, como muitas pessoas adoram fazer. Deixe-nos falar em termos gerais, confessar nossos erros, denunciar qualquer coisa que não seja Teosófica, mas deixar as personalidades de fora; estas estão dentro da providência de cada Karma individual, e isto não diz respeito aos Jornais Teosóficos.

Aqueles que desejam ter sucesso na Teosofia abstrata ou prática devem lembrar que a desunião é a primeira condição para a falha. Deixe uma dúzia de Teosofistas unidos e determinados se manterem juntos. Deixe-os trabalharem juntos, cada um de acordo com seu gosto, seguindo esta ou aquela linha da ciência universal, como preferir, de modo que esteja sempre em simpatia com seu vizinho. Isto trará benefício mesmo aos membros comuns que não se interessam por pesquisa filosófica. Se tal grupo, escolhido com base em regras esotéricas, fosse formado apenas entre místicos; se eles buscassem a verdade, ajudando cada qual com qualquer luz que possuíssem, garantimos que cada membro de tal grupo faria mais progresso na ciência sagrada em um ano, do que em dez por si próprio. Em Teosofia, o que é requerido é emulação e não rivalidade; senão, aquele que se gaba de ser o primeiro, será o último. Na verdadeira Teosofia , é o menor que se torna maior.

No entanto, A Sociedade Teosófica tem mais discípulos vitoriosos do que geralmente se acredita. Mas esses guardam para si mesmos e trabalham em vez de se entregarem ao falatório. Estes são nossos mais zelosos e mais devotados Teosofistas. Ao escreverem artigos esquecem seu próprio nome e usam pseudônimos. Alguns entre eles conhecem perfeitamente a linguagem-mistério, e muitos um antigo livro ou manuscrito, indecifrável para nossos estudantes, ou que se apresenta a estes como uma mera coleção de falsidades, quando comparada a ciência moderna, e é um livro aberto para eles.

Esses poucos e devotados homens e mulheres são os pilares de nosso templo. Eles sozinhos realizam o trabalho incessante de nossos “terminais” Teosóficos.

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