O Farol do Desconhecido

-IV-

            Ria então da ciência das ciências sem conhecer dela a palavra inicial! Foi nos dito que tal é a literatura tirada de nossas críticas. Estou contente por isso. É verdade que se as pessoas sempre falassem a respeito do que compreendem, elas apenas diriam coisas que são verdadeiras, e isto não seria muito interessante. Quando leio as críticas agora escritas da Teosofia, as repetições e piadas de mau gosto contra a mais grandiosa e sublime filosofia do mundo – cujo único aspecto é encontrado nas éticas nobres dos Philaletheus – eu me pergunto se as Academias de qualquer país, alguma vez, possam ter compreendido a Teosofia dos filósofos de Alexandria melhor que nos entendem agora?  O que é conhecido, e o que pode ser conhecido da Teosofia Universal, a não ser que alguém tenha estudado sob o direcionamento dos Mestres da Sabedoria? Uma compreensão tão pequena de Jâmblico, Plotino e mesmo Proclus, isto quer dizer da Teosofia do terceiro e quarto séculos, e as pessoas ainda se vangloriam estabelecendo julgamentos sobre a Teosofia do dezenove.

            A Teosofia, dizemos, chega a nós do Extremo Leste, como o fez a Teosofia de Plotino e Jâmblico, e mesmo os mistérios do antigo Egito. Não nos conta Homero e Heródoto, de fato, que os antigos Egípcios eram os “Etíopes do Leste”, que vieram de Lanka ou Ceilão, de acordo com suas descrições? Pois é de conhecimento geral que as pessoas a quem esses dois autores chamaram de Etíopes do Leste não eram senão uma colônia de Arianos de pele bem escura, os Dravidianos do Sul da Índia, que levaram uma civilização já existente com eles para o Egito. Isto teve lugar durante as eras pré-históricas que Barão Bunsen chama pré- Menitas (antes de Menes), mas que possui uma história própria, a ser encontrada nos Anais de Kullûka-Bhatta. Paralelamente, e aparte dos ensinos esotéricos, que não são divulgados para um público curioso, as pesquisas históricas do Coronel Vans Kennedy, o grande rival na Índia do Dr. Wilson como Sancritistas, mostra-nos que aquela Babilônia pré-Assíria foi o lar do Bramanismo, e do Sânscrito como linguagem sacerdotal.· Também sabemos, se é para se acreditar no Êxodo, que o Egito teve, muito antes do tempo de Moisés, seus divinos, seus hierofantes e seus magos; isto é dizer, antes da XIX dinastia. Finalmente Brugsch-Bey vê em muitos deuses do Egito, imigrantes de além do Mar Vermelho e das grandes águas do Oceano Índico.

            Seja assim ou não, a Teosofia é o descendente em linha direta, da grande árvore da universal GNOSE, uma árvore, dos quais os ramos luxuriantes, espalhando-se por toda a terra como uma grande cornucópia, fez sombra durante a época – que a cronologia Bíblica se contenta em chamar antidiluviana – em todos os templos e todas as nações da terra. Essa Gnose representa o agregado de todas as Ciências, o conhecimento (savoir) acumulado de todos os deuses e semi-deuses encarnados em tempos idos sobre a terra. Existem alguns que gostariam de ver nesses, os anjos caídos e os inimigos da humanidade; esses filhos de Deus que, vendo que as filhas dos homens eram justas, tomaram-nas como esposas e deram a elas todos os segredos do céu e da terra. Deixe-os fazer. Nós acreditamos em Avatares e em divinas dinastias, numa época que existia de fato “gigantes sobre a terra”, mas, repudiamos a idéia enfaticamente de “anjos caídos” e de Satã e seu exército.

“O que então é sua religião ou sua crença?” Nos perguntam. “Qual o seu estudo favorito?”

            “A VERDADE”, respondemos. A Verdade onde quer que a encontremos; pois, como Amônio Sacas, nossa grande ambição seria reconciliar todos os sistemas religiosos diferentes, e ajudar cada um a encontrar a verdade de sua própria religião, se vendo obrigado assim o mesmo reconhecer em seu vizinho. O que importa o nome se a coisa por si é essencialmente a mesma? Plotino, Jâmblico, e Apolônio de Tiana, todos os três, tinham, é dito, as dádivas maravilhosas da profecia, clarividência, e de cura, apesar de pertencerem a três diferentes escolas. Profecia era uma arte cultivada pelos Essênios e os benim nabim entre os Judeus, assim como pelos sacerdotes dos oráculos pagãos. Os discípulos de Plotino atribuíam poderes miraculosos a seu mestre. Philostrato proclamava o mesmo de Apolônio, enquanto Jâmblico tinha a reputação de suplantar a todos os outros Ecléticos na Teurgia Teosófica. Amônio declarou que toda a Sabedoria moral e prática estava contida nos Livros de Thot ou Hermes Trimegisto. Mas “Thot” significa um “colégio”, escola ou assembléia, e os trabalhos deste nome, de acordo com o theodidaktos, eram idênticos com as doutrinas dos sábios do extremo Oriente. Se Pitágoras adquiriu conhecimento na Índia (quando é mencionado em velhos manuscritos até esses dias com o nome de Yavanachârya,¨ o “Mestre Grego”), Platão adquiriu o seu, dos Livros de Thoth-Hermes. Como é que o mais jovem Hermes – o deus dos pastores, também chamado “o bom pastor” – que presidia sobre a adivinhação e clarividência, se tornou idêntico com Thoth (ou Thot), o sábio divino e o autor do Livro dos Mortos – apenas a doutrina esotérica pode revelar aos Orientalistas.

            Cada país tem seus Salvadores. Aquele que dissipa a escuridão da ignorância pela ajuda da tocha da ciência, assim destrancando para nós a verdade, merecendo o título como uma marca de gratidão, quase tanto quanto aquele que nos salva da morte curando nossos corpos. Tal alguém desperta em nossas almas adormecidas a faculdade de discernir o verdadeiro do falso, por colocar aí uma chama divina até então ausente, e ele tem o direito a nossa reverência gratificante, pois ele se tornou nosso criador. O que importa o nome ou o símbolo que personifica a idéia abstrata, se essa idéia é sempre a mesma e é verdadeira?  Que o símbolo concreto possa abarcar um título ou outro, seja o Salvador em quem acreditamos tendo por um nome terreno Krishna, Buddha, Jesus, ou Esculápio – também chamado de “Deus Salvador” – temos apenas que lembrar de uma coisa: os símbolos da verdade divina não foram inventados para o prazer dos ignorantes; eles são o alpha e omega do pensamento filosófico.

            A Teosofia sendo o caminho que conduz à Verdade, em cada religião como em cada ciência, o ocultismo é, podemos dizer, a pedra de toque e solvente universal. É o fio de Ariadne dado pelo mestre ao discípulo que se aventura dentro do labirinto dos mistérios do ser; a tocha que o ilumina através dos perigos da vida, para sempre o enigma da Esfinge. Mas a luz lançada pela tocha pode apenas ser discernida pelo olho da alma desperta, pelos nossos sentidos espirituais; ela cega o olho do materialista, como o sol, cega a coruja.

            Não tendo nem dogma nem ritual – sendo estes dois apenas restrições, um corpo material que sufoca a alma – nós não empregamos o “mágico cerimonial” dos Cabalistas Ocidentais; Sabemos muito bem de seus perigos para termos algo a ver com ele. Na S.T. cada Membro (Fellow) tem a liberdade de estudar o que deseja, precavendo-se para que não se aventure em caminhos desconhecidos que certamente o levarão para a magia negra, a feitiçaria contra a qual Eliphas Lévy tão abertamente preveniu o público. As ciências Ocultas são perigosas para aquele que as compreende apenas de maneira imperfeita. Qualquer um que tenha entrado sozinho em sua prática correrá o risco de se tornar insano e aqueles que a estudam fariam bem em se unirem em grupos pequenos de três a sete. Esses grupos têm que ser de número ímpar no sentido de terem maior poder; um grupo, apesar da pequena coesão que possa existir, formando um único corpo unido, sendo nos sentidos e percepções de que cada unidade complementa-se e ajuda mutuamente a cada um, um membro suprindo a outro a qualidade que este necessita – tal grupo sempre terminará sendo um perfeito e invencível corpo. “União é Força”. A fábula moral do velho homem doando a seus filhos um feixe de varas que não era para nunca ser separado é uma verdade que para sempre permanecerá axiomática.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *