O Farol do Desconhecido

-V-

            “Os discípulos (lanoos) da lei do Coração de Diamante (magia) ajudarão um ao outro em suas lições. A gramática estará a serviço daquele que busca a alma dos metais (químico)”, etc., etc., (Catecismo do Gupta-Vidya).

            O ignorante rirá se a ele for dito que nas Ciências Ocultas o Alquimista poderá ser útil ao filologista e vice-versa. Eles compreenderão melhor o assunto, talvez, se o que aquilo que é dito por este substantivo (gramático ou filologista) pretendemos designar aquele que realiza um estudo da linguagem universal dos símbolos correspondentes, apesar de que apenas os membros da Seção Esotérica da Sociedade Teosófica possam compreender claramente o que o termo filologista significa neste sentido. Todas as coisas na Natureza têm correspondência e são mutuamente interdependentes. No seu sentido abstrato, a Teosofia é o raio branco de onde advém as sete cores do espectro solar, cada ser humano assimilando um desses raios a um grau mais elevado que os outros seis. Segue-se que sete pessoas, cada uma imbuída com seu raio especial, podem ajudar outra mutuamente. Tendo a seu serviço o feixe setenário de raios, tem também, as sete forças da natureza sob seu comando. Mas, segue-se ainda que, para atingir este fim, a escolha das sete pessoas que irão formar um grupo deve ser deixada a um expert – a um iniciado na ciência dos raios ocultos.

            Mas aqui estamos em terreno perigoso, onde a Esfinge do esoterismo corre o risco de ser acusada de mistificação. Ainda aqui, a ciência ortodoxa fornece uma prova da verdade do que dissemos, e acharemos a corroboração na astronomia física e materialista. O sol é um, e sua luz brilha para todos; aquece o ignorante assim como o astrônomo qualificado. Relativo à hipótese sobre nossa luminária, sua constituição e natureza – seu número é legião. Nenhuma dessas hipóteses contem toda a verdade, ou mesmo uma aproximação dela. Freqüentemente elas são apenas ficção tão logo possam ser substituídas por outra; como é mais para as teorias científicas do que para outra coisa qualquer no mundo que essas linhas de Malherbe são direcionadas:

. . . et rose, elle a vécu ce que vivent les roses

L’espace d’un matin.·

            Entretanto, possa ele adornar ou não um altar da Ciência, cada uma dessas teorias pode conter um fragmento da verdade. Selecionadas, comparadas, analisadas, colocadas juntas, todas essas hipóteses podem um dia simplesmente suprir um axioma astronômico, um fato na natureza, em vez de uma quimera no cérebro do cientista.

            Isto está muito longe de significar que aceitamos como um incremento da verdade cada axioma aceitado como verdadeiro pelas Academias. Um exemplo disto é a evolução e transformação fantasmagórica das manchas solares. A Teoria de Nasmyth até o momento presente. Sir William Herschel começou vendo nelas os habitantes do Sol, anjos gigantescos e lindos. Sir John Herschel, mantendo um prudente silêncio sobre estas celestes salamandras, partilhava a opinião do mais velho Herschel de que o globo solar era nada mais que uma linda metáfora, um maya – assim proclamando um axioma oculto. As manchas solares acharam um Darwin na pessoa de cada astrônomo de qualquer eminência. Foram tomadas sucessivamente por espíritos planetários, mortais solares, colunas de fumaça vulcânica (concebidas, deve-se pensar, em cérebros acadêmicos), nuvens opacas, e finalmente por sombras na forma das folhas de plátano (teoria da folha de plátano). No presente dia o deus Sol está degradado. Escutar os homens da Ciência falando, pareceria ser nada a não ser uma gigantesca brasa, ainda fraca, mas pronta a se apagar na superfície de nosso pequeno sistema.

            Essas são as especulações publicadas por Membros da Sociedade Teosófica, quando os autores, apesar de pertencerem à fraternidade Teosófica, nunca estudaram as verdadeiras doutrinas esotéricas. Essas especulações não podem ser outra coisa senão hipóteses, nada mais do que coloridas com um raio de verdade, envolvidas num caos de fantasia e algumas vezes irracionalidade. Ao as selecionarmos da colheita e colocarmos lado a lado, consegue-se, entretanto, extrair uma verdade filosófica dessas idéias. Pois, deixe ser bem compreendido, a Teosofia tem isso em adição à ciência comum, em que ela examina o lado contrário de cada verdade aparente. Testa e analisa cada fato realçado pela ciência física, procurando apenas a essência e a constituição última e oculta em cada manifestação física e cósmica, seja no domínio da ética, intelecto, ou matéria. Em uma palavra, a Teosofia começa sua busca onde os materialistas terminam a deles.

“É então metafísica o que nos oferece?” Pode ser argumentado. “Porque não dizer logo?”

            Não, não é metafísica como o termo é geralmente compreendido, apesar de poder assumir este papel de vez em quando. As especulações de Kant, de Leinitz, e de Schopenhauer pertencem ao domínio da metafísica, e também aquelas de Herbert Spencer. Ainda, quando alguém estuda este último, não se pode evitar sonhar com a Dama Metafísica figurando num bal masqué da Academia de Ciências, adornada com um nariz falso. A metafísica de Kant e Leibnitz – como provada por suas Mônadas – está bem acima da metafísica de nossos dias como um balão nas nuvens está acima da abóbora no campo abaixo. Entretanto o balão, mesmo que mais alto possa estar da abóbora, é muito artificial para servir com um veículo para a Verdade das Ciências Ocultas. Esta última talvez seja uma deusa de pescoço francamente descoberto para servir ao gosto de nossos sábios modernos. A metafísica de Kant ensinou a seu autor, sem a mínima ajuda dos métodos hoje presentes ou instrumentos perfeitos, a identidade da constituição e essência do sol e de seus planetas; e Kant afirmou, enquanto os melhores astrônomos, mesmo os da metade deste século, ainda negavam. Mas esta mesma metafísica não conseguiu provê-lo com a verdadeira natureza daquela essência, mais do que tem ajudado aos físicos modernos a realiza-lo, sem levar em conta sua hipótese mais barulhenta.

            A Teosofia, portanto, ou podemos dizer o estudo das ciências ocultas, é algo mais que simples metafísica. É, se se permite usar ambos os termos, meta-meta-física, meta-geometria, etc., etc., ou um transcendentalismo universal.  A Teosofia rejeita inteiramente o testemunho dos sentidos físicos, se estes não estiverem baseados naqueles dados pelas percepções espirituais e psíquicas. Mesmo no caso da clarividência e clariaudiência mais altamente desenvolvida, o testemunho final de ambas deve ser rejeitado a não ser por aqueles termos que significam em Jâmblico o (palavra em grego) ou a iluminação estática, (duas palavras gregas) de Plotino e Porfírio. O mesmo se dá para as ciências físicas; a evidência da razão sobre o plano terrestre, como aquele de nossos cinco sentidos, deve receber o imprimatur (a assinatura) do sexto e sétimo sentidos do Ego divino, antes que um fato possa ser aceito pelo verdadeiro ocultista.

            A ciência oficial escuta o que dizemos e – ri. Nós lemos suas reportagens, nos espantamos com a apoteose de seu progresso auto estilizado, de suas grandes descobertas – mais do que aquele que, enquanto enriquece ainda mais um pequeno número dos já abastados, jogando milhões de pobres na mais ainda terrível miséria – e  deixamos que façam como queiram. Mas vendo que a ciência física não deu um único passo em direção ao conhecimento da natureza real da matéria primária desde os dias de Anaxímenes e da Escola Ionia, achamos graça por nosso lado.

            Nesta direção, o melhor trabalho tem sido feito e as descobertas científicas mais valiosas deste século têm, sem contradição, sido feitas pelo grande químico Sir William Crookes.©

            Neste caso particular, uma intuição impressionante da verdade oculta tem prestado mais serviço para ele do que todo seu grande conhecimento da ciência física. É certo de que nem métodos científicos, ou a rotina oficial, o tem ajudado bastante na descoberta da matéria radiante, ou em sua pesquisa do prótilo, ou matéria primordial.·

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