Os Gregos

O GNOSTICISMO

A palavra gnose (do grego gnosis, “conhecimento”) designa o conhecimento adquirido não por aprendizagem ou observação empírica, mas por revelação divina, opondo-se à pistis, ou mera crença. Privilégio dos iniciados, os gnósticos experimentavam uma iluminação que era regeneração e divinização, e conheciam simultaneamente sua verdadeira natureza e origem. Reconheciam-se em Deus, conheciam a Deus e apareciam diante de si mesmos como emanados de Deus e estranhos ao mundo, rejeitando todos os seus prazeres. Assim, adquiriam a certeza definitiva de sua salvação para toda a eternidade.

Herdeiros dos mistérios de Elêusis e governados por um pessimismo profundo, consideravam que a vida não era boa, afirmando que “o corpo era um cadáver com sentidos, o túmulo que carregamos conosco”, rejeitando a idéia de ressurreição do corpo. Consideravam o mundo como tendo sido criado por um demiurgo perverso, e a alma por um Deus bom e desconhecido, que teria sido capturada pelos poderes malignos e aprisionada em trevas. Acreditavam assim na inutilidade e inferioridade de tudo o que existe, pregando o celibato e proibindo o consumo da carne e do vinho. Preparavam-se para o dia em que o mundo perverso seria substituído pelo reino divino. Os pneumáticos (conhecedores puros da gnose) ascenderiam até o pleroma, reino da luz e da perfeição, e o fogo latente oculto no cosmos se avivaria e consumiria toda a matéria.

Até a descoberta de diversas coleções de manuscritos, entre os quais os de Nag Hammadi, no Egito em 1.945, era comum considerar o gnosticismo como uma forma de heresia cristã inspirada na filosofia grega neopitagórica e neoplatônica. Atualmente, tende-se a falar num conjunto de escolas que, em virtude de princípios comuns mas empregando diferentes métodos de especulação, formavam o movimento gnóstico.

 A maior parte dos estudiosos tende a considerar a existência de uma gnose não cristã, que englobaria movimentos como o hermetismo e o maniqueísmo, e de uma gnose cristã, herética. Esta última, formulada no século II por Basilides e Valentim, afirmava a realidade de um Deus transcendente e desconhecido, enquanto identificava o demiurgo criador do mundo físico com o Iaweh bíblico. As teses enunciadas por Orígenes de Alexandria (séculos II-III), segundo as quais o objetivo da encarnação e morte de Jesus teria sido trazer o conhecimento ao homem enganado por seus sentidos, constituíram na realidade uma tentativa de assimilar a gnose à ortodoxia cristã. Os ataques a essa tese por parte de teólogos cristãos dos séculos II e III, como Hipólito e Santo Irineu, fizeram com que o gnosticismo tenha sido considerado um desvio do cristianismo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *