Os Gregos

OS ENSINAMENTOS DE PITÁGORAS

“O que Orfeu foi para a Grécia sacerdotal, Pitágoras (580-500 a.C.) foi para a Grécia mundana”. Como filósofo do século VI a.C. sua revelação consistia numa exposição dos princípios ocultos contidos na ciência dos números – os Mistérios de Delfos, em cujo templo se lia: “Conhece a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses”. Nascido em 582 a.C. em Samos, estudou em Tebas no Egito de 531 a 529 a.C., onde atingiu o grau de “Iluminado”. Os gregos antigos afirmavam que ele passara pela Índia, de onde teria recebido forte influência da cultura védica, pela Fenícia, Babilônia e Pérsia. Fundou sua irmandade, por volta de 530 a.C. em Crotona, no sul da Itália, ao mesmo tempo religiosa e filosófica, visando a uma reforma social e política da região. Consistia sua doutrina numa espécie de reforma do orfismo vigente. A confraria foi desfeita por uma conspiração que pôs fim à sua hegemonia. Faleceu por volta de 500 a.C..

Chamava a seus discípulos de matemáticos, mas de uma matemática sagrada. Se o Número – considerado como essência das coisas – é constituído da soma de pares e ímpares, as coisas também encerram noções opostas, como as de limitado e ilimitado, daí elas serem vistas como conciliação de opostos, ou seja, como harmonia. A harmonia, para Pitágoras, era o que Heráclito chamava de força criadora do Logos.

Dizia que o Número não era apenas uma cifra abstrata e sim o Uno supremo, em sua virtude intrínseca e ativa, Deus, fonte de toda a harmonia. Segundo ele, A UNIDADE era o número de Deus, a Substância indivisível que continha Nele todo o infinito. O chamava de Pai, o Criador.

Símbolo do Espírito e essência do Todo, a Mônada, que é a essência do Ser incriado, agia como Díade criadora, essência invisível e substância divisível, princípio Eterno Masculino ativo e Eterno Feminino passivo de Deus. A Mônada seria a essência de Deus e a Díade sua faculdade geradora, que gera todo o mundo visível no espaço e no tempo, semelhante ao sétimo Princípio Hermético. Uma ordem, ou Cosmos (do grego kosmos, termo que contém as idéias de ordem e beleza, além de ilusão e aparência), dominaria o Universo.

Do mesmo modo que o mundo era dividido em natural, humano e divino, o homem também tinha três partes – corpo, alma e espírito. Essa era a base de toda a sua ciência esotérica – a Tríade ou lei do ternário. Para ele, cada número era um princípio universal, uma força ativa, mas nos quatro primeiros estariam os princípios divinos essenciais (os quatro mundos da Cabala judaica). Dessa maneira, a soma dos quatro primeiros números, igual a dez, seria o número que conteria todo o Universo, o número perfeito por excelência, todos os princípios da divindade reunidos e evoluídos em uma nova unidade (a árvore da vida cabalística); e a união do homem com a divindade seria representada pelo número sete, a união do três humano com o quatro divino.

Observaram também que havia uma relação entre a altura dos sons e o comprimento das cordas da lira. Da associação do número à música e à mística surgiram os termos matemáticos “média harmônica” e “progressão harmônica”. Acreditavam que em todo o Universo devia haver essa harmonia, responsável por sua existência e manutenção.

Dividiu o ano em quatro estações, ensinava que se devia orar duas vezes ao dia, voltado sempre para leste e formulou quatro graus de iniciação: o dos Ouvintes, o dos Instruídos (que aprendiam matemática e música), o dos Perfeitos (que aprendiam cosmogonia, psicologia e a evolução da alma) e um raro chamado o do Adepto. O noviço passava por um teste de um ano antes de ser aceito na irmandade.

Ensinava a pureza, o uso de roupas brancas que não procedessem de animais mortos, a castidade (“o sexo deve ser satisfeito no inverno, moderadamente na primavera e no outono, mas não no verão, embora seja prejudicial em todas as estações”), o ascetismo, o silêncio e o vegetarianismo (suas refeições eram comunitárias). Ensinava também que a alma é imortal e evolui através de diferentes encarnações, vidas que se seguem, sem semelhanças, mas que se encadeiam numa lógica implacável, regido por uma lei singular que explicaria as aparentes injustiças do destino como conseqüências das ações em cada existência anterior, recompensas e castigos. Ia mais além admitindo a reencarnação inclusive em animais ou vegetais, como resultado de atos em vidas anteriores (a metempsicose). Ensinava também que o mal, em desacordo com a lei divina, não era obra de Deus e sim do homem, apresentando uma existência aparente e transitória ao contrário da real e eterna lei divina.

A noção do daemon (sábio) de um homem como o lado espiritual da alma, distinto do lado puramente humano, era ensinado nas escolas pitagóricas. Esse “Eu superior” teria que ser alcançado pela consciência física como um passo necessário antes da união com o próprio espírito. Seria o nosso guia interno capaz de nos tornar como os Daemons, seres incorpóreos com poderes especiais, situados entre os deuses e os homens. Aqui um paralelo entre as figuras cristãs dos Santos, Mártires e Anjos, pode ser feito com os Heróis, Daemons e Deuses da iconografia grega. Segundo Apolônio de Tyana, o daemon seria como um anjo no homem, de uma beleza quase divina, a somatória das melhores e mais delicadas feições já tidas em todas as encarnações de um homem na Terra (Cf. em  “A Natureza Humana”).

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