OS ENSINAMENTOS DE PLATÃO
Com os Mistérios de Elêusis, Platão (428-348 a.C.) imprimiu à verdade religiosa e filosófica uma feição mais popular – exposta no Fedro. Mas com o juramento do silêncio, cerrou os lábios ao público, pois eles não o compreenderiam e profanariam indignamente os mistérios teogônicos da geração dos mundos, da Tétrada sagrada de Pitágoras (os quatro mundos cabalísticos).
Platão substituiu a doutrina dos três mundos de Pitágoras por três conceitos, como três caminhos abertos a Deus, dizendo respeito tanto ao mundo humano quanto ao plano divino: a idéia do Verdadeiro, do Belo e do Bem como três raios que partem e retornam a um mesmo foco – Deus. Sustentava existirem dois mundos: o visível, objeto dos sentidos, e o das idéias, objeto da inteligência.
Criou a categoria do Ideal e da Iniciação. Aquele como uma moral, uma poesia e uma filosofia, e este como a ação, uma visão e sentido direto da presença sublime da Verdade. Aquele o sonho e a saudade da divina pátria e este a sua recordação e posse. Assim criou um refúgio, que abre caminho a milhões de almas que não podiam alcançar nessa vida a Iniciação divina, mas que aspiravam com amargura à Verdade, gerando uma imensa popularidade e força às suas idéias. Instituiu vários graus de iniciação, sendo o título Chrestos (o bom ou o ungido) um título nobre de seus mistérios. Admitia, como símbolos da completa iniciação nos mistérios, os seguintes objetos:
- O Cetro, representando o Falo (a imagem material do Verbo);
- O Globo e a Cruz como formas da Cruz Ansata egípcia, o símbolo da imortalidade conferida pela Iniciação;
- A Coroa seria Kether, a Primeira Sephira, o Ancião dos Dias, o Pai (ver adiante na Cabala judaica e no volume 3);
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O Manto Púrpura, ornado de estrelas ou flores representava o Céu Noturno, a Aura do Sacerdote de Nut (deusa egípcia com corpo coberto de estrelas – a deusa do céu); e, finalmente,
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As roupagens rubro-douradas eram o símbolo do Corpo Solar, o Corpo de Glória do Iniciado – vermelho e ouro sendo as cores heráldicas do Sol.
Em sua obra Timeu, XXXI, 69 c, escreveu que o homem é constituído de uma parte externa (corpo físico e instinto animal irracional – Anoia) e uma interna. Esta última seria composta de um princípio mortal e corruptível (psique) e de um imutável, formado da mesma substância da Divindade (Nous). Quando a psique, a alma, se aproxima de Nous, ela faz tudo de forma correta e feliz, o oposto ocorre quando a psique se aproxima de Anoia (ver a Natureza Humana no Volume 2).
Em seus pequenos mistérios de Elêusis, celebrados no equinócio de primavera em Agrae, próximo a Atenas, Ceres (ou Deméter) e Perséfone (ou Maya) eram os personagens principais, formando o núcleo do culto de Elêusis. Aquela era vista como a luz celeste, mãe das almas e dos deuses cosmogônicos, a Inteligência Divina, e esta, Perséfone, simbolizava a alma humana, divina, filha amada da Deusa. Ceres diz à filha para não sair da gruta e não ceder aos encantos do astuto, e de conselhos pérfidos, Eros. Perséfone segue bordando num véu azul a história dos deuses, as figuras sem conta de todos os seres e o Caos pavoroso de onde saem os seres mortais, que nascem de Eros. Mas na ânsia de conhecê-lo para poder bordar também o seu rosto ela se perde na lábia de Eros, e, a despeito dos conselhos das ninfas, é arrebatada por Hades ao umbral.
Nos grandes mistérios, celebrados no grande templo de Deméter, também chamados “orgias sagradas”, estavam encerrados os segredos da vida. Era detalhada a passagem de Perséfone nos umbrais subterrâneos – “Para compreenderdes bem a vida futura, e a vossa condição presente, é mister que atravesses o império da morte…”. Era mostrada a vida de Perséfone no meio dos terrores e suplícios dos “Prados de Hades”, a representação simbólica da história da alma, descendo à matéria com seus sofrimentos e seu regresso à vida divina. Demonstra a imagem da alma humana, escrava das suas paixões, uma expiação de vidas passadas e que, pela disciplina, pelo esforço, intuição, razão e vontade, se podia relembrar as vastas verdades, tornando-se novamente pura e luminosa: a Virgem inefável de amor e alegria.
Antes da revelação final dos Mistérios de Elêusis, o Hierofante Iniciador, chamado “Pai” e considerado uma pessoa santa, apresentava o vinho e o pão aos candidatos, que o comiam e bebiam para testemunhar que o espírito devia vivificar a matéria, o “Eu superior” devia penetrar no “Eu inferior”, tomando posse dele, revelando a si mesmo. O vinho representava Dionísio (Baco) e o pão, ou trigo, Ceres (Deméter). Ceres como princípio produtor feminino da Terra, esposa de Zeus, e Dionísio o filho de Zeus, seu Pai manifestado, eram as personificações da matéria e do espírito, os dois princípios vivificantes da Natureza e da Terra.
Nas festas romanas em honra de Ceres (as Ambarvalias), segundo Helena Blavatsky (1.831-1.891), o Arval, assistente do Grande Sacerdote, vestido de branco imaculado, colocava sobre o altar um bolo de trigo, água e vinho em um cálice, a oferenda do sacrifício (Hostia); colocava a água lustral e depois o vinho no cálice, provava o vinho da libação e dava-o aos outros para provarem. Incensava-se o altar e a oferenda, o bolo representando o reino vegetal, o cálice o reino mineral, com a estola do Grande Sacerdote sobre o cálice, feita de pura lã branca de carneiro (representando o reino animal), era então erguida por ele, que em seguida lavava os dedos dizendo: “Eu lavarei minhas mãos entre o Justo e rodearei teu altar, Ó Grande Deusa!”. Em seguida dava três voltas no altar com as oferendas elevadas acima de sua cabeça. Repetia durante a cerimônia sete orações cada uma três vezes – as sete comemorações ternárias. Três vezes seu “Redemptor mundi” a Apolo, – o Sol, seu “Mater Salvatoris” a Ceres – a Terra, seu “Virgo Partitura” à Virgem deusa, etc..