A Grécia antiga compreene o sul da península balcânica, a costa oeste da Ásia Menor (atual Turquia), as ilhas do mar Jônico e do mar Egeu e as regiões sudoeste e sul da península itálica (Magna Grécia). Durante o reinado de Alexandre, o Grande, incorpora também o norte do Egito. Os povos helênicos estabelecem-se em ondas sucessivas nessas regiões, assimilam e reelaboram a cultura local.
A cidade universitária de Taxila, há 2.500 anos atrás (500 a.C.), acolhia estudiosos de todas as partes do mundo. Muitos gregos passaram a morar na Índia e adotaram o hinduísmo ou o budismo. A doutrina da reencarnação de Pitágoras (580-500 a.C.) tem, sem dúvida, origem hindu. Diz-se que Platão (428-348 a.C.), grande admirador da escola pitagórica, em viagem aos países asiáticos, visitou a Pérsia e demorou-se na Índia; seu pensamento reflete a filosofia Shânkia e sua tese “A República” reafirma idéias hindus, como a divisão da sociedade em corporações, que nada mais é do que o sistema hindu de castas.
Uma história de prática de magia e feitiçarias, “o culto do lobisomem”, sacrifícios animais e humanos e o uso de objetos, por sacerdotes e videntes mendicantes, para invocar poderes malignos e infligir males aos outros (semelhantes ao Vodu haitiano) estão registrados em descobertas arqueológicas. Os deuses gregos representam forças e fenômenos da natureza, divindades protetoras de algumas profissões, impulsos e paixões humanas e os quatro elementos (a terra – Deméter, a água – Poseidon, o ar – Hera e o fogo – Hefaístos). São provavelmente fragmentos, restos de mitos selvagens relativos à origem das coisas e do homem, muitos deles vindos de outras culturas: Zeus era Enlil ou Bel dos sumérios ou Marduk dos babilônios; Afrodite era a Ishtar suméria; Apolo era o Xamaxe sumério, ou o Hórus egípcio. Antes de ser uma religião patriarcal, a partir do século 12 a.C., há indícios arqueológicos que mostram um matriarcado por volta do século 20 a.C. a 14 a.C., em torno da deusa Potnia, a Grande Mãe que governava o mundo.
A religiosidade grega não se expressa através de textos sagrados. Os deuses estão presentes em todos os aspectos da vida cotidiana, e são reverenciados por um conjunto de práticas e rituais realizados em bosques sagrados, templos ou cumes de montanhas. Os sacerdotes consagram a vida ao culto de um deus específico e, nos templos, presidem sacrifícios, transmitem e interpretam oráculos. As divindades evoluem com o tempo e assumem diferentes significados. Embora exista um panteão de deuses comum a todos os gregos, cada Cidade-Estado tem seu próprio deus protetor, com seus cultos, rituais e festas específicos (à semelhança das divindades protetoras egípcias e dos santos padroeiros cristãos). As mais importantes são a Panatenéia, em honra de Atena, as Olimpíadas, celebradas a cada quatro anos em Olímpia, com a organização de jogos em homenagem a Zeus, e as Dionisíacas, grande festa popular que inclui representações dramáticas, em homenagem a Dionísio, celebrada em Atenas e também em áreas camponesas. Os principais santuários do mundo grego são Delos e Delfos, em homenagem a Apolo, Olímpia, em homenagem a Zeus, Epidauro, a Asclépio e Elêusis, a Deméter.
Segundo sua mitologia, no início era o Caos, não havia a natureza, nem os deuses nem os homens. Caos deu origem a Nix (noite) e Érebo (Trevas). De Nix surgiu Geia (ou Gaia – Terra) e ela dá a luz Urano (Céu). “De início Urano era supremo, e fazia sucessivos filhos em Gaia. Como não se afastasse de Gaia, seus filhos ficavam retidos no ventre dela. Cansada da situação, Gaia incentivou seu filho mais novo, Cronos, a castrá-lo. Nasceram então os onze filhos, os Titãs (Oceano, Ceos, Crio, Hipérion, Jápeto, Tétis, Febe, Têmis, Teia, Mnemósine e Réia), e do sangue derramado nasceram os três Cíclopes. Cronos, por sua vez, devorava seus próprios filhos, até que sua esposa Réia deu-lhe de comer uma pedra, em lugar de Zeus. Zeus, criado em Creta, obrigou seu pai a vomitar seus cinco irmãos, e, junto com estes e com ajuda adicional, derrotou Cronos e seus Titãs, lançando-os no ‘Tártaro’. Para derrotar os Cíclopes teve ajuda de seu filho com uma mortal, Hércules (Héracles)”.
Para o povo grego, o principal deus é Zeus, o pai e rei dos deuses e dos homens, o guardião da ordem e dos juramentos, senhor dos raios e dos fenômenos atmosféricos. Hera, sua irmã e esposa, preside os casamentos, os partos, protege a família e as mulheres. Atena, ou Palas Atena, nasce da cabeça de Zeus, já completamente armada. É a deusa da inteligência, das artes, da indústria e da guerra organizada. Apolo, filho de Zeus e da deusa Leto, é o deus da luz da juventude, da música, das artes, da adivinhação e da medicina. Dirige o “carro do Sol” e preside os oráculos. Artemis, irmã gêmea de Apolo, é a deusa-virgem, símbolo da vida livre, das florestas e da caça. Afrodite, deusa da beleza, do amor e da volúpia sexual, é casada com Hefestos (Hefaísto), filho de Zeus e de Hera, feio e disforme, protetor dos ferreiros e dos ofícios manuais. Hares (Ares), filho de Zeus e Hera, é o deus da guerra violenta. Poseidon ou Posídeon, irmão de Zeus, é o deus do mar. Hades, irmão de Zeus, governa a vida após a morte e a região das trevas – inferno grego. Deméter (Ceres), irmã de Zeus, é a deusa da agricultura. Dionísio ou Baco, deus da videira e do vinho. Hermes, filho de Zeus e da ninfa Maya (Perséfone), é o mensageiro dos deuses, protetor dos pastores, dos negociantes, dos ladrões e inspirador da eloqüência. Apesar desse panteão, sabiam da existência de uma Divindade Superior, à qual chamavam de Deus desconhecido, de quem nada sabiam, mas que adoravam sem O conhecer (At 17:23).
Já a raça humana, segundo Hesíodo (800 a.C.) em seu poema “Os Trabalhos e os Dias”, era uma raça de ouro: “…como deuses viviam, com almas felizes, despreocupadas, livres de labuta e de dor; a desditosa velhice tampouco os acercava, mas toda a sua vida festejando passavam…”. Segundo a mitologia grega, Epimeteu aceitou como esposa a bela Pandora, um presente de Zeus. Ela abriu uma caixa de onde escaparam todas as miséria e aflições das quais a humanidade jamais se recuperaria (semelhante ao pecado original bíblico).
Mas uma sabedoria, oculta ao povo e disponível aos buscadores da Verdade, foi exposta por três Mestres durante toda a história da Grécia. “Para cada estágio – seu alvorecer, seu meio-dia e seu crepúsculo – houve um iniciado. Orfeu é o do amanhecer, Pitágoras (580-500 a.C.) o do meio-dia e Platão (428-348 a.C.) o do anoitecer da Grécia”. Contemporâneo de Pitágoras foi Heráclito de Éfeso (540-480 a.C.) cujos pensamentos nos chegaram de forma muito fragmentada.
Sócrates (469-399 a.C.) morreu dizendo: “Causa das causas, tem pena de mim”, alusão ao Deus desconhecido. Platão, após a morte de seu mestre, Sócrates, viajou pelo mundo antigo atrás de conhecimento, iniciando-se nos mistérios de Ísis (cuja essência é a mesma dos mistérios de Elêusis), embora não tenha alcançado o grau superior de Adepto que Pitágoras alcançara. Sabendo que Pitágoras tinha sido o maior de todos os sábios gregos, através de uma escola pitagórica da Índia, comprou a peso de ouro um manuscrito de Pitágoras, tomando deste filósofo as idéias mãe e o esqueleto de seu sistema.
Em seu trabalho Simpósio, Platão apresenta o mito grego da criação. Relata que originalmente o ser humano era uma criatura esférica, composta, de três tipos: dois homens, duas mulheres e um homem e uma mulher. Por castigo dos deuses, essas criaturas foram separadas e agora cada metade sai em busca de sua outra metade.
Paulatinamente os mistérios se corromperam, com os gregos se tornando idólatras, supersticiosos e decadentes. Alexandre, o Grande, concebeu fazer de seu império uma unidade, na filosofia, na religião e na ciência, tentando levantar o mundo antigo de seu estado. A síntese de seu pensamento esteve na fundação de Alexandria, no Egito, que se tornou centro da cultura do império grego. Após a sua morte, no reinado dos ptolomeus do Egito, a biblioteca de Alexandria abrangia mais de meio milhão de papiros. Buscou fundir a filosofia oriental, o judaísmo e o helenismo com os mistérios egípcios. Sonho perdido após a conquista romana do império grego, no qual a religião não passava de um instrumento de dominação e espoliação. Um império materialista em que o imperador, não satisfeito com sua dominação secular, queria também a dominação espiritual: intitulou-se sumo pontífice, o próprio deus.