OS ENSINAMENTOS DE ORFEU
O conhecimento da cosmogonia grega advém dos poemas atribuídos a Homero (século IX a.C.) e Hesíodo (800 a.C.) e dos atribuídos a Orfeu, músico da Trácia. Orfeu, que provavelmente viveu no tempo de Moisés, é considerado filho de Apolo com uma sacerdotisa – Clio (ou de Eagro, rei da Trácia, com Calíope – segundo alguns), e considerado o Salvador dos homens. Naquele tempo as sacerdotisas que adotavam o culto a Baco, as bacantes, evocavam as forças da natureza, eram magas, sedutoras e dominavam pelo terror, sacrificando sangrentamente vítimas humanas. Orfeu transformou por completo o culto a Baco. Purificando-o, restituiu a majestade de Zeus, a consagração a Apolo em Delfos e instituiu os mistérios (os Mistérios de Dionísio), fundindo a religião de Zeus com a de Dionísio (Baco) em um pensamento universal. A tradição oral conta que Orfeu apreendeu suas doutrinas da Índia, associando Dionísio a Rama.
Em seus mistérios, Orfeu afirmava, como sendo o primeiro mistério, que Zeus era o grande Demiurgo, que Ele reinava desde o mais profundo céu até o abismo da Terra, Sopro das coisas, Rei, Poder, Deus. O segundo mistério afirmava que Dionísio era o Filho de Zeus, Seu Verbo manifestado. Espírito radiante, Inteligência viva, resplandecia nas mansões de Seu Pai, o palácio do Éter imutável. Dionísio tinha descido ao abismo terrestre, vindo do Éter, atraído por Sua própria imagem refletida na profundidade azul. Aqui chegando se deteve, mudo de admiração ante Maya (Perséfone), a Virgem divina, que tecia um véu onde se viam as imagens de todos os seres. Nesse momento os ferozes Titãs e as Titânidas, admirados com sua beleza e loucos de amor, se lançaram sobre Ele furiosamente, desmembrando-O, e enterrando Seu coração. Zeus aniquilou a todos os Titãs e Palas levou de volta ao Éter o coração de Dionísio que se tornou um sol radiante. Dionísio ressuscitará, mais vivo e poderoso que nunca, quando as sombras se unirem ao coração flamejante Dele, o terceiro mistério (sua ressurreição).
Afirmava, como parte do terceiro mistério, que os bons homens eram o corpo e o sangue de Dionísio, sendo os maus homens seus membros perdidos, que se retorciam no crime e no ódio, na dor e na paixão, através das existências, sendo atraídas cada vez mais pelas forças malignas do abismo. Porém todos os que conheciam os mistérios eram salvadores de almas, os “Hermes” dos homens, à semelhança dele mesmo. Orfeu, que se considerava médico de almas, cantava hinos de louvor a Zeus e a Dionísio (três vezes revelado: nos infernos, na Terra e no céu). Dizia ser duro o escarpado caminho que levava até Deus, que Ele só podia ser visto com os olhos do espírito e que esses precisavam ser abertos às custas de grande trabalho e grandes dores, pois não sabíamos mais ver com eles. Era preciso manter casta a vida e limpa a alma, sendo necessário também muito estudo.
A luz de Deus espanta os fracos e mata os profanos. Todos os que então são merecedores de ver a Deus, recebiam a Iniciação, onde renasciam, depois de vencidos, pelo esforço pessoal, todos os sofrimentos passados e as dores terrenas, para uma nova vida. Nessa nova vida se uniriam, como um só corpo e uma só alma, à luz de Dionísio, livrando-se afinal do doloroso círculo das existências.