O Ilusório e o Real (Deus)

VISÃO CRISTÃ

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1:1); “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou” (Jo 1:18); “…e o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheia de graça e de verdade” (Jo 1:14).

 

Todos os místicos cristãos, numa tradição conhecida como teologia da negação que se origina em São Dionísio (?-258) e tem seu expoente em São João da Cruz (1.540-1.591), afirmam: “Deus é o meu ser, embora o meu ser não seja o Ser de Deus” (citado da obra cristã “The Cloud of Unknowing”). Santo Agostinho (354-430) dizia: “Quando pensas em Deus, tudo quanto se possa apresentar a ti em forma de corpo, expulsa-o, repudia-o, evita-o… Ele não pode ser dito ou definido: é o que é, em todos os tempos e em qualquer lugar”. São Tomás de Aquino (1.225-1.274) afirma, na Suma Teológica I, q.2, a.a. 1, 2, 3 e 4, poder-se provar que Deus existe de cinco formas: a prova do movimento, da causalidade eficiente, da contingência, dos graus de perfeição dos entes e pelo governo do mundo. Aperfeiçoou uma antiga verdade filosófica, segundo a qual Deus não se encontra em nenhum lugar, ou seja, Ele não está “lá”, da mesma forma que eu estou ”aqui”.

A primeira, parte do princípio de que tudo muda de um estado para outro e que, nessa mudança, as coisas adquirem um estado que já a tem em POTÊNCIA. Então passam a tê-la em ATO. Por exemplo, uma parede branca é branca em ATO e vermelha em POTÊNCIA. A tinta vermelha, que o é em ATO, quando em contato com a parede branca a transforma em vermelha em ATO. Ou seja, tudo o que muda é movido por algo. É movido aquilo que estava em potência para uma perfeição. Em troca, para mover, para ser motor, é preciso ter a qualidade em ATO. É, portanto, impossível que uma coisa seja motor e móvel, ao mesmo tempo, para a mesma perfeição, ou seja, que uma coisa mude a si mesma. Retrocedendo para saber a causa primeira em ATO que transformou a primeira coisa, que o era em POTÊNCIA, teremos duas possibilidades: uma seqüência finita ou uma infinita. Nessa constataríamos não haver uma causa primeira que deu início às mudanças e a POTÊNCIA sempre antecederia ao ATO, e isso não seria possível pois um ser em POTÊNCIA não dá origem a nenhum movimento, este tem que partir de um ser em ATO. Logo esta hipótese é impossível, a seqüência não pode ser infinita. Aliás tudo no nosso Universo tem de ser finito, pois a matéria, o tempo e o espaço são mensuráveis, logo finitos. Que o Universo é finito se comprova pela teoria do Big-Bang e pela lei da entropia. O Universo teve um início e terá um fim.

O primeiro motor que dá início a toda série de mudanças não pode ser movido, porque não há nada antes do primeiro. Portanto, esse primeiro ente não podia ter potência passiva nenhuma, porque, se tivesse alguma, ele seria movido por um anterior. Logo, o primeiro motor só tem ATO. Ele é apenas ATO, isto é, tem todas as perfeições de modo absoluto.

A prova da causalidade eficiente diz que toda causa é anterior a seu efeito. Para uma coisa ser causa de si mesma, teria de ser anterior a si mesma. Por isso, neste mundo sensível, não há coisa alguma que seja causa de si mesma. Além disso, vemos que há no mundo uma ordem determinada de causas eficientes.

Se a série de causas concatenadas fosse indefinida, não existiria causa eficiente primeira, nem causas intermediárias, efeitos dela, e nada existiria. Ora, isto é, evidentemente falso pois as coisas existem. Por conseguinte, a série de causas eficientes tem que ser definida. Existe então uma causa primeira que tudo causou e que não foi causada.

Deus é a causa das causas não causada. A negação da Causa primeira leva a ciência materialista a contradizer a si mesma, pois ela concebe que tudo tem causa, mas nega que haja uma Causa do Universo.

As outras provas (da contingência, dos graus de perfeição dos entes e pelo governo do mundo) chegam à conclusão da existência de uma Causa primeira, de modos análogos. Da compreensão de que Deus é ATO puro vêm algumas conclusões:

  1. Deus é tudo o que é real, pois todo o mundo material está sujeito a mudanças, logo toda a matéria é ilusória; é puro espírito, pois toda matéria tem POTÊNCIA e Deus não tem nada em POTÊNCIA;
  2. Deus é imutável, pois não tendo nada em POTÊNCIA, não está sujeito a mudanças; é eterno, pois o tempo é a medida da passagem de algo em POTÊNCIA para algo em ATO. Deus não tendo potência passiva não pode mudar e logo não está sujeito ao tempo;
  3. Deus é absoluto, posto que é ATO; é infinito, pois infinito é aquilo que não pode aumentar nem diminuir, e Deus tem qualidades em sentido absoluto.

O Concílio de Nicéia (325 d.C.), em seu credo, afirmou a existência de uma Santíssima Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, três Pessoas consubstanciais que na realidade são Um, “criador de todas as coisas visíveis e invisíveis”. Já o Concílio Vaticano I (1.869-1.870) assim fala de Deus:

 

“A Santa Igreja Católica Apostólica Romana crê e confessa que há um [só] Deus verdadeiro e vivo, Criador e Senhor do céu e da Terra, onipotente, eterno, imenso, incompreensível, infinito em intelecto, vontade e toda a perfeição; o qual, sendo uma substância espiritual una e singular, inteiramente simples e incomunicável, é real e essencialmente distinto do mundo, sumamente feliz em si e por si mesmo, e está inefavelmente acima de tudo o que existe ou fora dele se possa conceber [cânone. 1-4].

1783. Este único e verdadeiro Deus, por sua bondade e por sua ‘virtude onipotente’, não para adquirir nova felicidade ou para aumentá-la, mas a fim de manifestar a sua perfeição pelos bens que prodigaliza às criaturas, com vontade plenamente livre, ‘criou simultaneamente no início do tempo ambas as criaturas do nada: a espiritual e a corporal, ou seja, os anjos e o mundo; e em seguida a humana, constituída de espírito e corpo’ [IV Concílio de Latrão].

1784. Tudo o que Deus criou, conserva-o e governa-o com sua providência, atingindo fortemente desde uma extremidade a outra, e dispondo de todas as coisas com suavidade [Sb 8,1]. Pois tudo está nu e descoberto aos seus olhos [Hb 4,13], mesmo os atos dependentes da ação livre das criaturas”.

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